Flicts, de Ziraldo: espetáculo ágil no Canecão.
Foto de Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 02.05.1992

 

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Brincadeira colorida e muito bem-humorada

Julho de 1969. De uma maneira ou de outra, tudo já havia acontecido. Das lembranças sem ressentimentos: o festival de Woodstock, a Tropicália e o Flower Power.

É o desbunde que se anuncia.

Flicts, de Ziraldo, que chega as livrarias numa edição de capa dura coloridíssima quase sem palavras, uma tônica da época, para contar a história de uma cor rejeitada por todas as outras e que quer apenas encontrar seu par. Todos se perguntam – é um livro infantil? Por que entre as bandeiras não esta a do Brasil? O que isso tudo significa? Resultado: um tremendo sucesso.

Flicts, com versão teatral de Aderbal Freire Filho e direção de Rogério Fabiano, chega ao palco do Canecão sem o impacto da geração das metáforas, mas com tudo de bom que restou da posterior geração-saúde, e mostra em cena um elenco afiado que canta, dança e representa, exatamente nessa ordem, ainda que sem muita desenvoltura, levando ao público um espetáculo ágil e de grande fôlego.

O texto de Aderbal tirou das cores de Ziraldo o autoritarismo e o mau humor com que tratavam o “pobre, feio e aflito Flicts“, tornando-as mais simpáticas à causa da desenturmada cor, sem alterar o sentido da história.

A coreografia de Maria Lúcia Priolli, combinada com a direção musical de Nelson Melin é sem dúvida nenhuma um presente para os afores e para o público. Todas as intenções estão cuidadosamente marcadas, mesmo nas cenas mais simples. Assim o canto flui naturalmente, como parte integrante da encenação e não como simples adendo.

A direção de Rogério Fabiano coube costurar com muita habilidade todos os excelentes elementos de que se cercou, inclusive os figurinos de Edson Lain, que foge das óbvias malhas de corpo inteiro, deixando em cena jogadores e esportistas prontos para luta. Fabiano utiliza ainda no espetáculo dois telões que só enriquecem a encenação, reproduzindo a ação de palco com mil efeitos, ou inserindo novos personagens. O cuidado a ser tomado é com o desfecho da peça , quando na tela aparece literalmente a lua, que não é absolutamente da cor flicts como afirma o personagem.

No mais, é embarcar nesta colorida e bem-humorada brincadeira musical que agradou a plateia que lotava o Canecão no último domingo. Como diriam os nostálgico dos 70. “Uma viagem!”

Cotação: 2 estrelas (Bom)