Crítica publicada no Jornal O Dia
Por Armindo Blanco, Rio de Janeiro, 25.04.1980

Barra

No último fim de semana, prolongado pelo feriado de segunda, 21, houve intenso tráfego infantil na Avenida Princesa Isabel. Motivo: as duas peças para crianças, Passageiros da Estrela, de Sergio Fonta e Flicts de Ziraldo e Aderbal Júnior, recém estreadas nos teatros Villa Lobos e Princesa Isabel. Sem dúvida, duas grandes atrações, para a restrita camada de público mirim que goza de condições econômicas para consumir esse tipo de diversão. E, no caso da primeira, com o potencial de bilheteria reforçado pela presença no elenco de Lídia Brondi em sua primeira atuação nos palcos e ao lado de nomes tão prestigiosos como os de Ruth de Souza e mestre Sadi Cabral.

Reservo maiores considerações sobre os dois espetáculos para um próximo “Caderno D” dominical onde disponho de espaço mais amplo. Por hoje, queria apenas assinalar alguns fatos auspiciosos, que merecem registro urgente:

O elevado nível profissional de ambos, a confirmar, na área da produção, coragem e escrúpulos a que, felizmente, o público vem correspondendo através da comparência maciça;

O regresso do Princesa Isabel ao gênero, após alguns anos em que, sistematicamente, seu responsável, o empresário Orlando Miranda, também diretor do SNT, o recusara para o buliçoso público de palmo e meio;

A aplicação, o talento e a sensibilidade com que Egberto Gismonti e Sérgio Ricardo musicaram Passageiros da Estrela e Flicts, respectivamente;

O bom gosto da cenografia de Maria Carmem, já detentora do Mambembe 79 e favorita para o Molière, ainda que em ambos os casos, não com o meu voto, que foi para o Marcos Flaksman, de Rasga Coração, concebeu para o texto de Sergio Fonta, usando, como é de sua notória preferência, materiais pobres, mas de grande eficiência visual;

O punhado de jovens atrizes que personificam as diferentes “cores” que se opõe a invasão do inesperado e diferente Flicts e entre as quais de destaca Carla Camuratti, pela simpatia da presença e o contagioso prazer pessoal com que evolui em cena.

Finalmente, cabe destacar que o teatro para crianças e/ou infanto/juvenil (Passageiros da Estrela se adequa mais a esta faixa etária), está funcionando como laboratório de aperfeiçoamento para novos diretores como Lauro Góes, Passageiros, e José Roberto Mendes, Flicts. Isto posto, resta lembrar que as duas peças são apresentadas apenas aos sábados, 17h, e domingos, 16h, e que nos dias em que vimos, os adultos acompanhantes compartilharam sem reservas do entusiasmo manifestado pela criançada.