São vinte atores que cantam, dançam e interpretam em Filme Triste

Critica publicada – Sem identificação do jornal
Por Antonio Augusto Machado – São Paulo – 1984

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Filme Triste: o melhor da temporada

Já antecipo, antes de mais nada, que Filme Triste, de Vladimir Capella, e a montagem que esperava ansiosamente nesses últimos anos. E explico: desde Besame Mucho, de Mário Prata, e Band Age – que recordavam os anos 60, ambas aplaudidas em São Paulo e no Rio – aborda-se a época, todavia, enfocando determinadas áreas: a política, na primeira, e a educacional, na segunda. Acontece que os tiveram a adolescência e a juventude nesse decênio sempre pediam algo mais em teatro, cinema ou literatura sobre aqueles tempos – usos e costumes, embalos musicais, trazidos dos EUA e Europa (Itália e França imperando), e, inclusive, as reformas da política e da educação. E foi o que vimos englobados em Filme Triste.

Alguns se queixaram de que a montagem, na estreia, estava um pouco longa – a peça foi num só ato -, porém, justamente o contrário se deu conosco. Ficamos tristes ao perceber que Filme Triste havia terminado!

O autor – várias vezes premiado no teatro – se atém a citações inesquecíveis da época. São vinte atores contando lembranças e de como era bom aquele tempo.

O lançamento dos dropes Dulcora (“embrulhadinhos um a um”), o spray vaporoso auxiliando em desaparecer o cheiro da fumaça do cigarro (moças eram proibidas de fumar!). O amor à primeira vista entre dois jovens, tendo ao fundo musical “Strangers in the Night”; o primeiro encontro na porta de casa, quando Maria, ginasiana, opta ser chamada de Mariana, “porque o namorado vai achar mais bonito” – aa canção “Maria”, interpretada por Johny Mathus respalda a beleza da cena. O rock’n’roll, o twist e o hully gully! São  épocas que não voltam mais, mas que não voltam mais, mas que não saem das nossas lembranças. Éramos felizes!

Filme Triste se desenvolve entre Rosa (professora de piano) e Humberto (jovem estudante, cujo pai, fazendeiro, encontrava-se em péssimas condições de saúde, no interior). Vladimir Capella narra um romance recheado de encanto. São tempos de sonhos e fantasias que já começam a ser conturbado pelas reivindicações políticas, tais como a volta à democracia, a reforma da Educação (1968), etc., inseridas suavemente entre as doçuras dos quadros.

A direção do próprio autor é admirável, pois faz o elenco – Grupo Pasárgada – um bloco maciço de atores… consistentes que revivem tempos de mocidade. Capella tem 33 anos e já é um dos mais ricos talentos da dramaturgia nacional. Os figurinos (Valnice Vieira) obedecem rigorosamente o esquema da peça.

O elenco tem nomes conhecidos e desconhecidos. Uma vez homogêneo, não há quem ressaltar. Uma vez homogêneo, não há quem ressaltar. O fato é que são interpretes capacitados e que surpreendem pelo excelente estilo interpretativo, além de participarem do melhor espetáculo desse início de inverno. É a história nacional no palco e por isso saímos orgulhosos – genuinamente brasileira -, mas depois de termos aplaudido em pé!

Cotação: Ótimo

Ficha Técnica

Filme Triste, de Vladimir Capella. Direção do autor. Cenários de Carlos Pazetto. Figurinos de Valnice Vieira. Preparação de corpo de Leonra Lobo. Elenco: Antonio Brandão, Aparecida Martins de Assis, Arthur Leivas, Ana Maria Surani, Carlos Pazetto, Cibele Troyano, Cristina Bosco, Dani Patarra, Eber Mingardi, Eliana Kairuz, Evinha Sampaio, Geraldo Petean, Ju Rodrigues, Marcos Favaretto, Nelson Baskerville, Roberto Domingues, Susie Walker, Valnice Vieira e Vera Alice Zimmermann. Divulgação de Bri Fiocca.

Cartaz do Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1000 (metrô Vergueiro). Fone: 270.5746

Ingressos a Cr$ 1.500, Hoje 21h00.

Atenção: Dado o sucesso, a parit do dia 25, Filme Triste estará se apresentando em todos os teatros da Prefeitura (Teatro Paulo Eiró, Santo Amaro; Teatro João Caetano, Vila Clementino; Teatro João Caetano, Vila Clementino; Teatro Arthur Azevedo, Mooca, Zona Leste).

Acompanhe as informações nesta coluna, na qual informaremos o teatro que a peça estará em cartaz.