“Queremos quebrar o tabu de que clássico é sempre algo empoeirado e sem graça”. Eduardo Tolentino

Matéria publicada em O Globo
Por Rita Kaufmann – Rio de Janeiro – 08.04.1985

 

 

 

 

 

Barra de Divisão - 45 cm

Festival de Teatro começa com O Noviço

A partir de hoje, no horário alternativo do Teatro Ipanema, tem lugar uma iniciativa rara no panorama carioca: o Festival de Teatro Brasileiro, uma produção do Grupo Tapa, dirigido por Eduardo Tolentino que acaba de receber alguns prêmios Mambembe por Pinóquio, espetáculo para crianças, há um ano em cartaz. O Festival de Teatro Brasileiro inicia com O Noviço, de Martins Pena, que deve ficar em cartaz até maio; em junho e julho será apresentado Caiu o Ministério, de França Júnior; A Casa de Orates, de Artur e Aloísio Azevedo será apresentada em agosto e setembro e, em outubro, novembro e dezembro o Tapa trará ao público a que se destina o festival – estudantes do primeiro e segundo graus – a adaptação de um conto de Machado de Assis. Visando atingir especificamente os estudantes da rede oficial e particular do Rio, os horários das apresentações são, na segunda e terça, 21 horas (atendendo aos alunos de cursos supletivos) e quartas, quintas e sextas, às 17 horas.

Os ingressos para as escolas terão preços especiais (rede oficial: Cr$ 3 mil). Para o público em geral, custarão Cr$ 10,00 mil. O Festival de Teatro Brasileiro é resultado do projeto Escola que o Grupo Tapa vem desenvolvendo desde 1982, visando à formação de repertório do grupo. O Tapa se apresenta há três anos para estudantes da Zona Sul e da Baixada Fluminense, em quadras de futebol, salas de aula e auditórios de tamanhos variados, o que impõe um caráter de simplicidade das apresentações, apoiadas basicamente no trabalho dos atores. O mesmo repertório que tem sido levado às escolas será mostrado em temporada fixa no palco do Ipanema.

Premiado diretor do Tapa, Eduardo Tolentino, que dirige O noviço, explica que o Festival de Teatro Brasileiro “pretende traçar um painel da vida no Rio de Janeiro no século passado, através da comédia de costumes”. Sobre O noviço, comenta Tolentino:

– No sentido formal, é o que se poderia chamar de um espetáculo inacabado, porque é impossível desvinculá-lo de sua vivência mambembe anterior. Acredito, no entanto, que essa forma “inacabada” vá ao encontro do tom ingênuo, romântico e crítico de Martins Pena.

Tolentino esclarece que a produção é bem simples e que a trilha sonora se compõe das modinhas imperiais pesquisadas por Mário de Andrade, dentro do mesmo tom crítico que o texto sugere em relação ao romantismo da época retratada. O diretor acrescenta:

– O Noviço é dirigido ao público infanto-juvenil e tenta quebrar o tabu de que clássico é uma coisa sem graça, empoeirada. Toda a ingenuidade de um texto, do século passado, pode ser revelada com malícia, sem mudar uma vírgula. A nossa experiência nas escolas comprovou isso.

O Festival de Teatro Brasileiro se inicia, por sinal, no Ano Internacional da Juventude, quando o Rio de Janeiro completa 420 anos de fundação. No hall do Teatro Ipanema, o grupo Tapa montou uma exposição sobre o Rio Antigo, organizada pelo Museu dos Teatros, que acompanha a cronologia dos quatro autores que estarão sendo apresentados de abril a dezembro. Após o espetáculo, haverá um debate entre estudantes e atores sobre o que foi visto em cena. Para Eduardo Wotzik, coordenador do Projeto Escola do Tapa, o que o grupo pretende com a realização do Festival é dar aos jovens, ao fim deste ciclo, noções práticas e teóricas de nossa História, Literatura e Dramaturgia do século passado, consolidando os conhecimentos da Língua Portuguesa, além, é claro, de desenvolver seu gosto pelo Teatro.

Como estímulo aos jovens estudantes, o Tapa realizará no fim deste ano um concurso de monografias sobre o Festival. A cada espetáculo, os alunos farão redações, que serão selecionadas em suas próprias escolas. As cinco melhores serão encaminhadas ao Tapa. Uma comissão de professores e integrantes do Tapa escolherá cinco finalistas, entre todas as escolas. Os prêmios serão um passe livre para todos os espetáculos do grupo em 1986 e a leitura dos trabalhos premiados.

Ficha Técnica:

Autor: Martins Pena; Direção: Eduardo Tolentino de Araújo; Direção Musical: José Lourenço; Figurinos: Lola Tolentino; Cenários: Ricardo Ferreira e Olinto Mendes: Produção executiva: Brian Penido; Iluminação: Wagner Pinto; Operador de som: Ângela Sant´Anna; Elenco: Ernani Moraes, Teresa Frota, Eduardo Wotzik, Priscilla Rozenbaum, Cláudio Gaya, Susanna Kruger e Brian Penido.