Fotos: Georgia Branco

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 06.02.2015

Barra

Bailinho da Banda Mirim é um show de competência

Com o espetáculo Festa, o grupo encanta filhos e pais, fazendo todo mundo dançar nas poltronas do teatro

Está chegando ao fim a temporada da Banda Mirim no Sesc Santana, com a peça Festa, que comemora os dez anos de trajetória do grupo. Neste domingo, última sessão. Há chances de voltar em breve em outra unidade do Sesc.  Por isso, fiquem atentos e não percam, pois essa festa é muito boa mesmo, uma festança porreta.

Muito provavelmente inspirado no filme O Baile, de Ettore Scola, o espetáculo – sem texto convencional – se passa todo durante uma festinha de aniversário de criança, com muitos convidados divertidos, uma trilha sonora deliciosa, inúmeras brincadeiras, alegria e empolgação. O tempo passa durante a festa e a menina aniversariante (Claudia Missura, sempre excelente fazendo papel de criança) vai crescendo, crescendo até virar adolescente, depois adulta e depois uma velhinha.

A plateia curte muito tudo isso. O teatro vira realmente uma grande e contagiante festa. Claudia Missura entra em cena pela primeira vez de olhos vendados para sua festinha-surpresa, e já nos cativa a todos logo em sua primeira fala, anunciando que está com vontade de fazer xixi.  Acertando em cheio na entonação, na expressão facial, na linguagem corporal e no timing, é incrível como nesta simples e prosaica fala de criança a atriz já entra ‘causando’, antecipando toda a potência e o tom de sua interpretação que virá a seguir.  Magnífico.

Alexandre Faria, outro que se destaca cada vez mais no elenco da Banda Mirim, dá um banho de romantismo como o namoradinho (depois marido) da menina aniversariante, uma espécie de cover do Elvis, com direito a brilhantina no cabelo. Sua cena com a música ‘Love me Tender ‘é simplesmente um encanto, lembrando a todos da deliciosa fase do primeiro namoro.  Ele e Claudia Missura, no alto de um bolo, como dois noivinhos, fazem a plateia suspirar. E, de quebra, o bolo gira para marcar a passagem do tempo – recurso simples e eficiente, que funciona muito bem como simbologia para a plateia mirim, que embarca completamente na proposta.

O elenco todo está muito bom, expressivo, engraçado, afinado. Percebe-se logo o quanto eles se divertem em cena. Para citar mais alguns nomes, sem querer estragar as inúmeras surpresas do espetáculo, temos também Lelena Anhaia, impecável como uma bisavó de mais de 100 anos, totalmente desmemoriada; Edu Mantovani, que fazia papel de cachorro em ‘Sapecado’, outro lindo espetáculo da carreira da Banda Mirim, e agora, em Festa, segura uma coleira o tempo todo, com um cachorro “imaginário”; a luminosa Foquinha, no papel de uma tia gorda que pensa ser esportista como Jane Fonda, e Tata Fernandes (diretora musical da peça), arrasando como a menina mais tímida da festa, que acaba incentivada pelos amiguinhos a entrar sem receio na pista e cantar e dançar pela primeira vez. São personagens muito bem delineados pela dramaturgia competente de Marcelo Romagnoli, também mais uma vez o diretor do espetáculo.  Uma grande direção, aliás.

Os figurinos de Fábio Namatame são vistosos, repletos de informação e graça: paletó xadrez, camisola de renda, calça boca de sino, shortinhos, tênis do tipo conga, suspensórios, pochetes, meias ¾ listradas, óculos, perucas, aparelhos nos dentes – uma riqueza de detalhes. A pesquisa de objetos de época também é boa, incluindo uma vitrolinha tocando vinis da ex-banda Menudo já no saguão do teatro – caprichosa introdução ao universo que se descortinará logo em seguida. Notei que, na estrutura do espetáculo, um recurso se repete algumas vezes. Muitas das canções inéditas criadas pelo grupo são primeiramente introduzidas pelo elenco de forma cadenciada e lenta, só depois entram todos os instrumentos e os arranjos ficam completos. Entendo que seja uma estratégia até didática, para que a plateia tenha tempo de entender e aprender as letras, para depois todos cantarem juntos – já que, antes de mais nada, Festa é um show da Banda Mirim para as crianças. Mas lá pela quarta vez em que isso acontece, passou por mim uma sensação incômoda de “fórmula repetitiva”. Mas logo a Festa prossegue, com seus copos de papel, balões coloridos, línguas de sogra, canudinhos, docinhos e gomas de mascar, e não há como resistir a tanta euforia.  Que esta Festa ainda se estenda por muitos e muitos anos na carreira premiadíssima da Banda Mirim.

Serviço

Sesc Santana
Av. Luiz Dumont Villares, 579, Santana
Tel. 2971-8700
Domingo, dia 8, às 14h, último dia
Ingressos a R$ 17,00 (inteira)
Crianças até 12 anos não pagam