Festa no Céu: bom teatro e de graça


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 15.11.1998

 

Barra

Espetáculo para agradar ao público 

Festa no Céu, original de Braguinha nos disquinhos musicados, chega ao palco do teatro Lamartine Babo, no Centro Cultural da Light, pelas mãos da diretora Karen Acioly. A peça, que faz parte de um projeto que apresenta teatro de ótima qualidade, de graça, para a plateia infantil, emplaca este quinto espetáculo com casa cheia. Uma novidade na temporada atual que encara o sumiço do público.

A peça, com enredo já conhecido e com trilha musical animada, foi um hit para os que já passaram dos 40. Esses quase cinquentões, que nasceram com a TV, não tinham em sua época nenhuma musa loura saltitante na tela que lhes preenchesse o horário matinal. Assim, qualquer diversão mais eletrônica ficava por conta dos compactos coloridos que rodavam na vitrola. Por lá, Dona BaratinhaBranca de NeveJoão Pé de Feijão e outras fábulas faziam a festa da garotada.

Festa no Céu se incluí nos clássicos: São Pedro vai dar uma festa no céu no dia de São João, mas pra bicharada “não fazer vestido à toa, manda avisar que a festa é só para bicho que voa”. O sapo, um barrado no baile, não se conforma e vai de carona na viola do urubu. No final despenca lá de cima e se esborracha no chão, daí a explicação para o seu visual troncho e esborrachadinho. Donde se conclui que antes do acontecido, o batráquio era lindo.

Karen Acioly, em sua adaptação, deu nova forma ao conto, sem se perder do original. O desfecho explicativo foi suprimido, mas a história foram acrescentados outros rituais. Assim, a festa de São João é a festa do acasalamento, onde os pares devem ser encontrados, para no próximo ano apresentar sua prole. E para mostrar que o sapo não está “sobrando” tanto quanto parece, o casal do ano anterior é formado por um flamingo e uma mosca. A piada é inevitável e o protagonista, para não negar sua origem, engole a convidada.

Se no texto a autora é cheia de novidades, na direção carrega em elementos já muito seus conhecidos, testados e aprovados. O modelo é bom, mas a diretora sabe voar mais alto. Karen arma seu espetáculo com vários recursos teatrais, que incluem o teatro de sombras, a manipulação de bonecos, acrobacia em elásticos e atores que voam por cima da plateia com o cabo de aço, o mesmo recurso que usou, com sucesso, em A História da Baratinha, também de Braguinha.

Também repetindo o bom efeito, ao piano Maria Teresa Madeira conduz o espetáculo como narradora participante. Fernando Sant’Anna, também responsável pela técnica de manipulação dos bonecos, é um ator convincente em seu protagonista. O coro dos sapinhos é um dos achados do espetáculo. Mas a surpresa fica com a linda voz de Flávio Fernandes no papel da Saracura.

Festa no Céu tem trilha musical ao vivo, figurinos da grife Ney Madeira, sempre de muito bom gosto, e foi feito para a plateia que lota o teatro.

Cotação: 2 estrelas (Bom)