Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 14.11.2014

Barra 

O amor no tempo das cartas e dos coelhos

O infantil Felpo Filva, baseado em livro de Eva Furnari, é deliciosamente retrô

Mais uma excelente adaptação teatral de livro de Eva Furnari está em cartaz em São Paulo. Trata-se de Felpo Filva, que o produtor Fábio Santana decidiu realizar há quatro anos, quando uma de suas filhas (a caçula Manoela) mostrou o livro a ele, retirado da biblioteca de sua escola. O paizão caiu instantaneamente de amores pela história do coelho-poeta que dá título ao livro, arregaçou as mangas e foi atrás de gente boa que o ajudasse na empreitada. Recrutou apenas craques: Marcelo Romagnoli para o texto adaptado, Claudia Missura para a direção, Tata Fernandes para a música, Marisa Bentivegna para a luz, Fábio Namatame para os figurinos, Marco Lima para os cenários e, para as interpretações, o casal de atores Marat Descartes e Gisele Calazans, estreantes no teatro infantil. Só podia dar muito certo.

O espetáculo é impregnado de encantamentos e delicadezas. Não poderia ser diferente, em se tratando de um livro que fala de um coelho triste, que só escreve poemas tristes, como A Cenoura Murcha, até que recebe uma carta em envelope lilás e com fita de cetim e começa a se apaixonar por sua vizinha missivista, a coelha Charlô.

Há alusões graciosas a variadas formas de expressão escrita, como carta, poema, fábula, bula de remédio, receita de bolo e autobiografia. Isso dá um toque deliciosamente retrô ao espetáculo, que passa longe das referências à tecnologia atual (e-mails, torpedos, redes sociais). Ao contrário, o que vale aqui é relembrar o tempo dos carteiros, dos pombos correios, das máquinas de escrever.

O texto de Romagnoli é cuidadoso e explica ludicamente ao público mirim da geração atual o que é um cartão postal, por exemplo. Destaque também para um ótimo adereço lúdico (o brinquedo antigo ‘vai e vem’) usado aqui para representar o pombo correio.  No telão, que até poderia ser mais aproveitado durante do espetáculo, há imagens criativas da máquina de escrever em ação. No dia em que assisti à peça, houve, porém, muitas falhas na execução da iluminação.

As canções de Tata Fernandes funcionam muito bem. A primeira delas, a do carteiro, é sensacional. E é ótimo ver como a mesma trama é recontada pelo coelho e pela coelha de formas diferentes. Ele valoriza os lances de aventura. Ela enxerga bem mais a trama de amor. Explicitar essas diferenças de temperamento e personalidade das crianças é um grande achado empático.

Marat Descartes e Gisele Calazans estão muito bem em cena o tempo todo. São coelhos perfeitos. Dois grandes trabalhos de expressão corporal, voz, gesticulação e expressões faciais. Você se apaixona por eles facilmente e acredita que são coelhos desde a primeira aparição. O espetáculo concorrerá, no próximo dia 9, a três categorias no 1º Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem: música original (Tata Fernandes), atriz revelação (Gisele Calazans) e melhor ator (Marat Descartes)

Serviço

Sesc Bom Retiro
Alameda Nothmann, 185, São Paulo
Telefone (11) 3332-3600
Domingos, às 12h
Ingressos de R$ 1,60 a R$ 8,00
Até 7 de dezembro