Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 06.12.1980

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Fantasia pouco colorida

Fantasia-80, em cartaz no Café Teatro Roda Viva, na Urca, perto do ponto do bondinho, é um espetáculo que se anuncia como “uma coletânea das mais lindas estórias infantis narradas em ritmo de teatro revista”.  Não é bem assim. O texto, ao tentar fazer a “coletânea”, consegue apenas ser um conjunto de cenas mal-costuradas. É um trabalho que começa com um personagem, descolorido e triste, que não sabe o que é cor e nem colorido. Aí, logo-logo ele se colore e termina o único conflito da peça. Depois, vem uma sucessão de papos entre Zig e Zag; a seguir uma cena (pouco expressiva) de história infantil já conhecida – Alice/ Gata Borralheira/ Aladim, etc. (através de “texto e música” ou apenas música). E vai se repetindo assim até o final: papo-cena, papo-cena.

O texto de Paulo e Celina Werneck é uma tentativa de fazer teatro-revista para crianças. Sem dúvida esse pode ser um bom caminho para a comunicação, mas só se houver (respeitando-se a faixa etária, é claro) o que faz o charme da revista; a malícia, a malandragem, o humor, a comunicação fácil e imediata, o pique e o colorido de bons números musicais. Até o próprio carnaval final é muito pouco carnavalesco; é sem vida e a coreografia carece de maior imaginação.

O texto adota posições paternalistas irritantes como, por exemplo, falar para crianças, “como é maravilhoso ser criança”. Quando eu era criança-reprimida como a maioria e invejando os adultos por sua autonomia (que só depois percebi não ser tão autônoma assim) – quando eu era criança e ouvia os adultos dizendo que ser criança era maravilhoso, eu achava que os mais velhos eram apenas grandes mentirosos e só diziam essas coisas para nos enganar. Desconfiava deles.

Fantasia-80, continuando a filosofar sobre o que é ser criança, repete todo o tempo que a gurizada deve usar a imaginação e explorar a criatividade. É exatamente imaginação e criatividade são elementos que faltam ao espetáculo. A encenação de Fernando Reski é muito calcada no musical americano (e a pretensão era de fazer teatro-revista!) e isso fica visível logo no início, com a dança do Apresentador. Mas faltam o brilho, a graça, a riqueza coreográfica do musical americano. Fica um pastiche, uma imitação mal realizada em nível criativo, apesar de existir uma boa produção por trás (figurinos pouco criativos, mas vistosos / e boas soluções cenográficas). As danças são muito pobres, não atingem o espectador. O elenco não brilha nem compromete, mas, na realidade, não tem muitas chances. Os melhores trabalhos são das irmãs de Cinderela (Cláudia Neto e Lia Farrel) e do ator que faz o papel do Coelho; nessas situações há humor, há vivacidade, há interesse.

Da “coletânea” pouco se aproveita; e do “ritmo de teatro revista” o espetáculo fica longe. A ressaltar o fato de que a apresentação de Fantasia-80 significa a abertura de mais um espaço para o sofrido teatro infantil; e a ressaltar, ainda, a disposição do grupo em conquistar um espaço novo ali na Urca.