Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 16.09.1979

Barra

Palhaços Só em Setembro

O Grupo Hombu, tão premiado no ano passado com A Gaiola de Avatsiú, mostra agora, com Fala, Palhaço, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, que seus integrantes estão decididos a manter uma linha de trabalho contínua e de alta qualidade.

Silvia Aderne, Beto Coimbra, Regina Linhares, Sérgio Fidalgo e Tarcísio Ortiz criaram coletivamente, a partir da figura do palhaço, um espetáculo muito atraente e que dispõe de inúmeros estímulos para a criançada.

A força visual da encenação é muito grande e já no começo, com um jogo de luzes e cores, cria-se um clima envolvente. No início, as situações curtas que são mostradas ficam um tanto desligadas umas das outras e os finais parecem um tanto precipitados (“cebola”, “lâmpada”, “vaca”). Mas, em seguida, o desenvolvimento se engrena, o espetáculo fica mais “amarrado” e corre bem gostoso até o final.

O texto é, na realidade, um roteiro de situações, às vezes alegre, às vezes tristes, mas na maioria das vezes, cômicas, a partir de uma família de palhaços. Há situações em que, com fome, os palhaços resolvem vender a vaca; há o menino que não quer ser palhaço, pois prefere ir para a escola estudar; há a tentativa frustrada de serem animadores de uma festa de aniversário; há a gravidez e o nascimento; e há a criação da estrela, belo momento final de transformação de um cenário de concepção muito feliz.

O que me parece marcar bastante o espetáculo, além de sua força visual, é o verdadeiro show de criatividade com objetos. A redefinição de materiais, a utilização de uma coisa por outra onde a imaginação comparece sempre muito forte, a facilidade de transformar os objetos, isso me parece um dos pontos altos de Fala, Palhaço. Mas não é só isso: a montagem conta com uma música de Beto Coimbra muito gostosa e adequada às situações; cenários e figurinos que levam a plateia a embarcar nos climas propostos; e um elenco muito seguro e que consegue uma boa comunicação com a plateia.

Como o Grupo Hombu está com viagem marcada para a França, onde apresentará, a convite, A Gaiola de Avatsiú, os espectadores cariocas têm apenas até o final deste mês para assistir a Fala, Palhaço, um espetáculo alegre, bonito, envolvente e versátil.