Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 29.03.1980

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Palhaços Mais Comunicativos

O grupo Hombu entrou no mercado para valer. Com apenas dois espetáculos, já se firmou como uma equipe que apresenta um trabalho inteligente, criativo, uma equipe que se empenha na busca de uma linguagem muito própria. Isso fica facilmente observável quando se verifica a lista de prêmios que o grupo já recebeu, tanto com A Gaiola de Avatsiú como agora, com Fala, Palhaço, que estreou no Teatro Villa-Lobos e atualmente está fazendo carreira no SESC da Tijuca.

A troca de teatros trouxe algumas modificações para Fala, Palhaço, mas manteve intacto o seu nível de qualidade. Agora, no SESC, com menos espaço que no Villa-Lobos, Fala, Palhaço perdeu um pouco da sua força plástica, apesar de ser ainda um espetáculo de muita beleza. A encenação ganhou em comunicabilidade. A maior comunhão entre palco e plateia é até física, em função do desenho arquitetônico do teatro. O espetáculo agora corre mais solto, as crianças se aproximam mais, os atores podem interpretar numa dimensão mais coloquial (uma dificuldade para quem trabalha num teatro grande como o Villa-Lobos).

Isso tudo permite, no SESC da Tijuca, uma relação nova de Fala, Palhaço com seu público. Inclusive há uma diferença marcante: no Villa-Lobos o espetáculo demorava muito “a pegar”, só corria solto a partir de determinado momento.

Agora, desde o início, há uma boa comunicação com o público. E a brincadeira com a galinha funciona bastante, pela grande proximidade entre atores e espectadores.

É reconfortante ver a capacidade criativa do Hombu. A plateia se encanta com a vaca e suas tetas; com a mesa de almoço; com o nascimento da criança; com o apito engolido; com os ovos de gema presa; com a estrela que gira; com toda a maravilhosa utilização dos elementos transformáveis do cenário, Fala, Palhaço tem um apelo visual, climas expressivos e alguns momentos marcantes, como a partida para a festa ou a hora de fazer o bolo.

Fala, Palhaço, Duvide-ó-dó, Com Panos e Lendas são os três espetáculos infantis que herdamos do ano de 1979 e que não devem deixar de ser vistos pelas crianças cariocas.