Critica publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 10.09.1994

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Cativante mas às vezes confuso

De tempos em tempos, parece que se estabelece nos palcos do teatro infantil um ciclo dedicado a um determinado tema. Em 1991, tivemos uma profusão de farsas medievais. Já 1992 foi o ano da ecologia. E, sem dúvida nenhuma, 1994 é a hora e a vez dos contos de fadas. Apresentados em versões ligeiras ou com a marca muito particular de sus diretores, tramas que envolvem reis e princesas têm endereço certo no gosto do público.

Fadas, Bruxas e Madrastas,  de Alice Koënow e Fátima Café, reúne num só espetáculo as bem-conhecidas histórias de Branca de NeveCinderela e a Bela Adormecida, num formato bem anticonvencional. O resultado da exaustiva pesquisa do universo mágico feminino, sob a ótica de Freud, Jung e Erich Fromm, entre outros autores, traz ao palco, num ágil monólogo, a atriz Fátima Café. Os múltiplos personagens confundem-se propositalmente na dualidade do bem e do mal, como qualquer ser humano comum.

A direção de Alice Koenow lida com diversos elementos cênicos, como manipulação de bonecos, vídeos e até simples objetos, que ganham vida em cena para unir os fragmentos das três histórias apresentadas. Utilizando como fio condutor às figuras mitológicas de Clotos,  fiandeira dos nascimentos; Laquesis, responsável pelo destino; e Átropos, encarregado das mortes, Alice concebe um delicado espetáculo, em sintonia completa com sua única atriz em cena. Um desses casos em que a menor falha pode desandar por completo o ritmo e o entendimento da encenação.

Fátima Café, num esforço hercúleo, vive no palco as situações simultâneas das histórias,com grande intimidade com os elementos que a cercam. Contando às vezes com algum malabarismo teatral, ela faz surgir das solas de seus chinelos os mensageiros do príncipe, que o convite do baile e Cinderela. As irmãs malvadas desta estão presas a seus punhos, enquanto os anões de Branca de Neve saem todos de uma trouxinha. As surpresas, bem manipuladas pela atriz, cativam o público de menor idade, enquanto as mensagens mais reflexivas do texto ganham a atenção somente dos adultos.

Este talvez seja o elemento complicador do espetáculo. Dedicado prioritariamente ao público infantil, suas intenções acabam cativando mais aos acompanhantes. Embora os excelentes figurinos de Lílian Rabello façam as distinções acabam necessárias entre fadas e bruxas, a difícil tarefa de diferenciar as personagens das três histórias, somada à atuação das narradoras em cena, pelas crianças, nas varias mudanças da ação. Em alguns casos, o tempo de cena é insuficiente para identificar qual história que esta no palco naquele momento.

Apenas as passagens mais conhecidas dos contos, como a do sapatinho de Cinderela, experimentado pelas meninas da platéia, ou o espelho da madrasta de Branca de Neve, mostrado em vídeo, têm reconhecimento instantâneo . A trilha musical de C. E. Café, inspirada em ritmos brasileiros bem dançantes, também tem plena aceitação.

A bem-internacional tentativa de ampliar a faixa etária na platéia faz de Fadas, Bruxas e madrastas um espetáculo que merece ser visto mesmo por aqueles que não tenham a obrigação de cumprir uma programação infantil aos sábados e domingos.

*Fadas, Bruxas e Madrastas está em cartaz no Teatro Candido Mendes, aos sábados e domingos ás 17h. Ingresso a R$4.

Cotação: 2 estrelas