Matéria publicada na Última Hora
Sem Identificação – Rio de Janeiro – 22.06.1976
Cinco Meses Para Fazer de um Coelho um Rei
No dia 1 de julho quando Faça do Coelho Rei estrear será possível dizer em quanto orçou o seu custo. “Por enquanto, é difícil calcular o que representou todo esse trabalho, desde que cinco pessoas se reuniram, em fevereiro, para trabalhar na produção de uma peça que estrearia cinco meses depois. O que se pode dizer é que naquele momento ficou decidido que seriam superados todos os obstáculos à realização de uma produção profissional. E que essa produção teria de extrapolar o teatro, convertendo-se num acontecimento marcante para a cidade”.
Para Pedro Porfírio, autor e um dos produtores de Faça do Coelho Rei, sua terceira peça para crianças tendo o coelho como personagem principal, realizar um espetáculo absolutamente profissional se tornou quase que uma obsessão.
“Hoje, podemos dizer que não falta nada: temos um diretor respeitadíssimo, Luiz Mendonça; um diretor musical de grande sensibilidade, Paulo Romário; um coreógrafo criativo, Renato Castelo; um cenógrafo com currículo excepcional como artista plástico, Emanuel Bernardo; um figurinista competente, Laerte Thomé: um dos aderecistas, Albee Amóos, uma boa programadora visual, Bárbara duque e um diretor assistente saindo da FEFIEG, Zemaria Rodrigues”.
Essa equipe de direção foi montada desde março, quando a equipe de produção já tinha reservado o Teatro João Caetano. “A primeira providência é sempre reservar o teatro e para o tipo de trabalho que realizamos, há poucos teatros em condição de montagem da nossa peça. É que, além de precisar de dispor de muitos lugares, para fazer ingressos baratos, também precisamos de espaço onde realizar os exercícios de criação, com o que as crianças se dissensibilizam e podem participar do espetáculo naturalmente, sem as apelações e artificialistas de uma participação de sopetão”.
Produzir, em teatro, infantil quer dizer, em primeiro lugar, conseguir as coisas. “E não foi fácil. Toda semana nos reuníamos em torno de uma pauta de contatos. Cada um saía com três, quatro cartas na mão, em busca de alguém que se sensibilizasse e acreditasse na importância do teatro infantil. E foram muitos poucos os que acreditaram”.
“Tudo tem sido muito difícil e só tem sido possível porque três caras acreditaram no projeto do coelho: Ubiratan Correa, do Sesc; Martinho de Carvalho do Departamento de Cultura e Orlando MIranda, do SNT. Cada vez que aparece um problema, e aparece toda hora, um deles é acionado. E sempre consegue contornar”.
“Só esperamos que isso tudo tenha dado num bom espetáculo. E é para isso que ensaiamos todas as tardes no João Caetano, com um elenco altamente consciente do projeto: Alice Viveiros, Breno Bonin, Dirceu Rabelo, Fernando Eiras, Luiz Braga, Renato Castelo, Teresa Caldas, William Gonzalez e Wlamir Macedo. No João Caetano, contratamos também os serviços do Paulo, eletricista; Pedrinho, maquinista; Soares, sonoplasta e Rui, contrarregra”.
A peça Faça do Coelho Rei ficará em cartaz no João Caetano somente durante o mês de julho, mas será representada diariamente .
”Durante a semana, a criança paga Cr$ 10,00 e nos sábados e domingos, Cr$ 15,00. O adulto só paga os CR$ 15,00 se não tiver recebido os ingressos gratuitos que estamos distribuindo”.
“Uma coisa é importante. O teatro para crianças está demonstrando que tem vitalidade e pode ser profissional, de qualidade. Isso garanto, que nossa peça vai provar”.
Em abril foi iniciado o trabalho de seleção do elenco. Formada a equipe de direção, só faltava o coreógrafo, foi decidido o teste público: “O Mendonça era contra o teste, mas hoje admite que foi a melhor coisa que fizemos. Porque só com essa forma de seleção foi possível conhecer atores tão virtuosos, dos quais eu pessoalmente só conhecia o William Gonzalez e o Breno Bonim, este muito pouco.
Dos 45 candidatos, selecionamos os dez, após 8 horas de reunião, porque pelo menos uns trinta eram muito bons”.
“O Rodrigo se encarregou de contar com os músicos. Ele já havia indicado o Paulo Romário para a direção musical e convidou o grupo Pomar, ao qual o Paulo pertence, para participar. Eram oito músicos ao todo e tivemos que fazer uma proposta em bloco porque um espetáculo infantil não comportava tantas despesas. O pessoal do Pomar foi de grande compreensão. Apenas um não concordou, mas o Paulinho resolveu o problema. Uma flautista já tinha compromissos nos horários da peça e então o diretor musical resolveu montar o apoio musical com 5 músicos, com o que acabamos por melhorar os salários de cada um, que ainda é irrisório, em comparação com o seu valor, como, fazendo a mesma comparação, ainda é irrisório o dos atores. Estes, porém, ganham por mês, têm Fundo de Garantia e essas obrigações todas, que não são favor, mas que são novidades numa área que se paga por cachê”.
Teoricamente, o espetáculo estava totalmente atendido. “O Laerte se lançou nos figurinos e contratamos uma costureira em Bangu. Dona Vilma passou as se dedicar inteiramente às nossas roupas. Restava, finalmente, cuidar das promoções paralelas, aquele compromisso de fazer algo mais que o teatro. Graças ao apoio do Sesc, do Departamento de Cultura do Município, do SNT e de O Globo, montamos o seminário sobre a importância do teatro na formação da criança, com 16 expositores e 272 professores inscritos.
O êxito do seminário superou todas as expectativas. Depois partimos para a manhã da criatividade na Lauro Müller, domingo, dia 20, com o apoio do mesmo pessoal, desfile de abertura da campanha Nas Férias, Marque Encontro com o Teatro, com a participação do Teatro Gibi e outros grupos convidados; mapeamento no Zoológico e exposição de arte infantil, na Morada 2, dia 29, sob o tema Faça do Coelho Rei, com participação de crianças dos centros de atividades do Sesc”.