Crítica publicada no Jornal Última Hora
Sem Identificação do Jornalista – Rio de Janeiro – 07.07.1976

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O esforço de equipe para fazer uma Peça Infantil

Para a garotada, a festa que está apenas começando, promete ser muito animada. Mas para os atores, produtores, músicos, diretores, o cenógrafo, figurinista, enfim, para todo o batalhão de assistentes que permite a encenação de uma peça, a estreia logo mais às 16 horas de Faça do Coelho Rei, de Pedro Porfírio, é a explosão de um trabalho de meses. Num desafio aos que consideram teatro infantil coisa menor e que por isso deve ser levada apenas nos fins de semana, os produtores prometem mostrar, diariamente, no João Caetano, uma peça que trará celeuma, mas muita alegria à criançada.

O trabalho da equipe de produção, Rodrigo Farias Lima, Bárbara Duque, Lia Blower e Ângela Cunha, além do autor da peça, Pedro Porfírio, começou em fevereiro, exatamente três meses antes dos ensaios.

Paralelamente à montagem de um esquema de promoção inédito para uma peça infantil, que inclui entre outras coisas, um Seminário sobre a importância do teatro na formação da criança, uma manhã de criatividade com a pintura do muro da rua Lauro Muller, um desfile de carros alegóricos e uma exposição de pintura, a preocupação maior dos produtores foi levar o profissionalismo do teatro para adultos à plateia infantil. Para isso, Faça do Coelho Rei teria que ter um diretor criativo e de cuja seriedade ninguém tivesse dúvida: Luís Mendonça.

Ganhador do Prêmio Molière de 1974 pela direção de Viva o Cordão Encarnado, Mendonça é velho conhecido do coelho. Foi ele quem dirigiu há dois anos Faça Alguma Coisa Pelo Coelho, Bicho, também de Pedro Porfírio, outro sucesso de crítica e de público. “Gostei muito desse texto e considero meu trabalho como diretor dessa peça infantil tão importante como para uma peça para adulto como Lampião no Inferno e Canção de Fogo. Além disso, se não houver teatro infantil, como será a plateia do futuro?”.

Mendonça diz que todos os espetáculos que dirige são também para crianças . “Trabalhei no mesmo ritmo do último coelho, ou seja, dando toda liberdade de criação aos atores e procurando fazer um teatro cada vez mais popular”.

E o que vem a ser esse teatro popular? “É o teatro que se dirige conscientemente a todas as plateias, sem diferença de classes ou idade”. Destacando o bom clima dos dois meses de ensaios “tudo correu tranquilo, apenas com os problemas decorrentes da situação do ator no Brasil”, Mendonça elogia o cuidado que cercou a produção da peça em que os atores recebem bons salários e têm demonstrado talento e garra de velhos profissionais. Já tendo dirigido antes algumas peças infantis, entre elas Pluft, o Fantasminha e O Rapto das Cebolinhas, ambas de Maria Clara Machado, ele deu um novo colorido ao texto de Pedro Porfírio e espera ansioso a reação das crianças no final da peça. Seu assistente, José Maria Rodrigues, forma-se esse ano em direção pela Escola Teatro da FEFIEG, onde já dirigiu algumas peças. Zé Maria, também autor teatral, é outro que elogia o elenco escolhido após um teste rigoroso em que se apresentaram 46 atores. “São todos excelentes, não só em termos de interpretação, mas também quanto ao nível cultural. Isso tornou possível muita discussão e muita criação”. Em teatro para adultos Zé Maria fez um pequeno papel em Golpe Sujo, onde também era contrarregra.

Esse é seu segundo trabalho em peças do Coelho. Ele foi ator e iluminador em Faça Alguma Coisa Pelo Coelho.

Outro fator de tranquilidade para o diretor Luís Mendonça foi a possibilidade de trabalhar com sua própria equipe. O figurinista Laerte Tomé, fez com ele Viva o Cordão Encarnado e Canção de Fogo e para o Coelho criou roupas leves e coloridas em vez das tradicionais fantasias pesadonas, e que muitas vezes até assustam as crianças. “Minha ideia foi vestir os atores de acordo com sua função na selva com leves sinais do animal que representam”, explica Laerte. Também o cenógrafo, Emanuel Bernardo é velho companheiro de Luís Mendonça e seu trabalho mais recente foi o cartaz da peça Canção de Fogo. Esse é seu primeiro cenário para um teatro de verdade. Explica-se: Emanuel estudou 11 anos seminário onde fazia os cenários de Faça do Coelho sacramentais e trabalhava como ator. Ele também pinta, desenha e faz cerâmica, e ficou muito feliz com o convite de Mendonça para ser o cenógrafo de Faça do Coelho Rei. Emanuel explica seu trabalho: “A produção me pediu um cenário maleável, que pudesse ser transportado de um lugar para o outro, no caso de mudarmos de teatro ou levarmos a peça em escolas. Preferi então o telão pintado com motivos tropicais para dar a ideia de selva, onde se passa a ação. O trono-cama do Rei Leão foi uma solução prática para o único móvel em cena”.

Ele mesmo pintou o telão tendo o cuidado de escolher cores neutras e traços simples para deixar os personagens em destaque. “O cenário não deve ser a vedete do espetáculo. Cheguei a pensar em motivos de história em quadrinhos ou de ilustração de livros, mas acabei optando pela vegetação, que não fugiria ao tema selva”, diz ele. Para Emanuel o cenário deve despertar a fantasia na criança e atingir seus sentidos sem contudo se tornar o dono da peça.

Outro aspecto revolucionário de Faça do Coelho Rei, em se tratando de teatro infantil, além dos espetáculos diários, é o da música ao vivo, durante toda a peça. Essa parte foi entregue ao Grupo Pomar, formado por Marcos Dantas, percussão; René Clair, guitarra e Alberto Gabeira, baixo, dirigidos por Paulo Romário, o pianista do conjunto. Sobre seu trabalho como diretor musical de um espetáculo infantil, Paulo fala com carinho sem esconder o senso profissional de quem já foi ritmista de Viva o Cordão Encarnado e pianista de Gota D’àgua. “A parte de criação, feita em conjunto, foi muito facilitada pela alta musicalidade dos atores que fizeram um teste de canto antes de serem escolhidos. A inclusão de outras músicas além das da peça também foi escolha nossa e contou com a aprovação do diretor do espetáculo, Luís Mendonça. Acho que a música ao vivo motiva mais a criança para a peça e espero que todos cantem”. As letras são de Pedro Porfírio e as músicas da psicóloga Berenice Moreira que estreia em teatro como compositora. Berenice procura fazer músicas vibrantes mas simples e de fácil assimilação e acredita que elas vão ser um ótimo apoio para o espetáculo. A coreografia está a cargo de Renato Castelo, também ator da peça (é o macaco). Renato é bailarino do Teatro Municipal, onde se formou recentemente, e dança no Café Concerto Rival. Ele trabalhou dobrado em Faça do Coelho Rei pois quando não estava orientando a dança e a postura em cena dos “bichos”, estava atuando como ator e seu trabalho de expressão corporal, um dos pontos altos do espetáculo, é quase tão importante quanto o do diretor.

A iluminação do espetáculo caberá a seu Paulo, funcionário do João Caetano, que anda preocupado, pois em julho, além de Faça do Coelho Rei, o teatro vai estar apresentando um show musical e uma peça para adultos. Daí a dificuldade para as diferentes iluminações dos três espetáculos. Ele próprio vai dirigir e criar os focos de luz necessários a cada bicho. O maquinista da peça é Pedro Leobino que vem de uma empreitada difícil para a montagem do cenário do Último Carro.

Se a peça obtiver o mesmo sucesso das promoções paralelas, encerradas terça feira com a realização de uma Exposição de Pintura Infantil sob o tema Faça do Coelho Rei com a presença de mais de 100 crianças na Galeria de Arte da MORADA, em Botafogo, o João Caetano lotará durante todo o mês julho. .A peça e as promoções da  CATA – Consultoria de Apoio ao Teatro e às Artes, responsável pelo espetáculo, tem entusiasmado várias autoridades cariocas entre as quais o Comandante Martinho de Carvalho, diretor do Departamento de Cultura do Município e de diretores de criatividade do SESC, que também deram sua colaboração à montagem.

Rodrigo Farias Lima, um dos produtores de Faça do Coelho Rei, que vem de empreendimentos importantes no teatro para adultos e cujo último trabalho foi para Último Carro é outro que se entusiasmou desde o início pelo Coelho. E Rodrigo justifica as promoções: “Como produtor de Lampião no Inferno, Viva o Cordão Encarnado, MUMU e Último Carro, pude constatar que os espetáculos teatrais devem ser melhor lançados e ter sua imagem bem definida. Com isso, nossa cultura será enaltecida e o teatro conquistará grandes plateias”.