Os Atores em cena. Foto: Marcelo Auge

Como é encarar o início da vida adulta? Foto: Carol Schievenim

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 22.07.2016

Barra

Eu Nunca! fala de jovens batendo à porta da idade adulta

Peça aborda com realismo as dificuldades das primeiras escolhas no final da adolescência

Quem nunca se sentiu atraído por alguma professora ou professor do colégio? Quem nunca se apaixonou pela pessoa errada? Quem nunca cabulou aula? A brincadeira do Eu Nunca! é velha conhecida da juventude, que aplica penalidades aos participantes (como beber mais um shot), dependendo das respostas a todas essas perguntas e muitas outras.

Usando essa espécie de ‘jogo da verdade’ como inspiração e como prólogo do espetáculo (com a participação da plateia), três jovens atores muito talentosos escreveram o texto da peça Eu Nunca, em cartaz em São Paulo até o fim do mês. Gabriela Gama (que você conhece da premiada Fortes Batidas), Júlio Oliveira (que você conhece de Píramo e TisbeAprendiz de Feiticeiro e das telenovelas Tititi, Sangue Bom e Os Dez Mandamentos) e Guilherme Lobo (que você certamente conhece do aclamado filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, no papel do adolescente cego), além de cuidarem da dramaturgia, também estão juntos no palco, falando de si, de sua geração e das perspectivas de futuro para quem acaba de concluir o tal do ensino médio.

O trio faz milagres no minúsculo e espremido palco improvisado da Livraria da Vila, no Shopping Higienópolis. O texto é forte, bem construído, talvez um pouco longo. Mas alterna com habilidade alguns solilóquios dos atores (diretamente olhando para a plateia, em depoimentos realistas) e cenas de mais ação, mas não por isso sem uma profunda comoção. Quem estreia na direção é justamente Júlio Oliveira, que defende o personagem mais problemático do trio, Téo, envolvido em mentiras e futilidades de uma pretensa vida fácil. É um personagem extremamente sedutor, que enreda o room-mate mais certinho e ingênuo, Davi (Guilherme Lobo), e briga o tempo todo com Duda, a terceira moradora do apê (Gabriela Gama), madura e centrada.

Em essência, são três jovens com ideologias e formações bem diferentes – e isso faz o acerto da dramaturgia. A trama fala realmente a linguagem diversificada da juventude atual. E questiona as escolhas que essa galera faz ou que já é obrigada a começar a fazer na faixa de 17 anos em diante. Como é encarar o início da vida adulta? Como enfrentar tantos e tantos ‘nãos’ que se ouve na incipiência da maturidade? A batalha por emprego, a guerra do vestibular, o envolvimento com as drogas, as decepções familiares, a dependência financeira, a rotina dentro de um apartamento compartilhado, o fascínio das falsas promessas de felicidade… Tudo isso está no palco, muito bem defendido pelo ótimo elenco.

Júlio Oliveira, talvez por ser ele mesmo o diretor de uma peça que escreveu, que produz (ao lado de Ricco Antony) e em que atua, é o que ainda precisa ajustar mais sua interpretação, que em certos trechos cai em um exagero desnecessário, com muito choro, lágrimas escorrendo, sofrimento e grito, esquecendo-se de que no teatro menos é mais. Contidos e seguros, Gabriela Gama e Guilherme Lobo acabam acertando mais no tom e na verdade de seus personagens. De toda forma, a química entre os três é consistente e conquista a empatia da plateia do início ao fim, fazendo de Eu Nunca uma atração imperdível para adolescentes que já não se mobilizam com as temáticas do teatro infantil e precisam ser fisgados para um teatro de identificação e espelhamento.  Junte a galerinha e corra pra ver.

Serviço

Livraria da Vila – Shopping Pátio Higienópolis
Av. Higienópolis, 618 – Consolação – São Paulo
Sábados 20h e Domingos 18h.
Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Até 31 de julho