Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 25.10.1980
Um espetáculo criativo
A Estrela Guia do Oriente, texto e direção de Luiz Sorel, em cartaz na Aliança Francesa da Tijuca, é o primeiro espetáculo natalino deste ano. A peça trata do convite feito aos Reis Magos pela estrela-guia; da viagem que fazem; e do nascimento de Jesus. À primeira vista isso pode parecer pouco atrativo para as crianças; e, na verdade, o texto é de uma grande concisão, dando apenas as informações básicas e não carregando em si o gérmen do interesse do público. O que torna A Estrela Guia do Oriente um bom programa é a sua encenação e não o seu texto.
O espetáculo tem uma linguagem muito particular, trabalhando com um clima meio oriental, com os acontecimentos se desenvolvendo numa espécie de sub-tom. Não há piques dramáticos, não há a exploração dos conflitos; há uma maneira suave, delicada, ritualística e até mesmo religiosamente respeitosa na maneira de narrar. A concepção básica da peça encontra-se no trabalho com os panos coloridos, linha que o diretor Luiz Sorel vem desenvolvendo a cada trabalho e que nesta, peça, parece ter chegado a seu nível mais alto. Através da utilização dos panos – aliados a uma bem escolhida música de Demetrio Nicolau, à luz de Aurélio de Simoni e Neném e a movimentação dos atores – é que o espetáculo envolve e interessa. O primeiro bom momento é a tempestade de areia; depois, à noite; a seguir, o mar bravio; a construção do barco; a calmaria. E a travessia pelo mar encapelado, que levou uma menina ao meu lado a dizer! “Que legal mãe! Parece mesmo!”
Mas a beleza visual da encenação não depende apenas da criativa utilização dos panos. Também os bem bolados objetos de cena contribuem bastante – a chuva; os olhos que brilham no escuro; a “luz eterna”. E, ao final, a surpresa do bonito aparecimento do presépio.
Esse é um espetáculo um tanto estranho na sua forma, tanto que é quase impossível falar do elenco, já que todos os atores são meros veículos para a realização de bons achados cênicos. Esse é um espetáculo que, a priori, prescinde do elemento interpretação; o ator é apenas o caminho para os efeitos.
A frustração de A Estrela Guia do Oriente fica a cargo de seu final, um tanto abrupto. As crianças acompanharam interessadas as viagens que os reis enfrentaram para seguir a estrela. E de repente os reis chegam a um bebê e o espetáculo termina – motivando um novo comentário da minha vizinha mirim: “Ué! Acabou, mãe?”. Há também uma cena absolutamente desnecessária e que não faria falta à peça, servindo apenas para atrasar seu desenvolvimento: o encontro dos reis com o “sábio do mar (?)”.