Estação Drummond: um espetáculo de qualidade da Cia de Teatro Medieval

Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 06.11.2005

 

 

Barra

Drummond menino

Peça que aborda a vida e a obra do poeta empolga as crianças

Estação Drummond é o mais recente trabalho da Cia. de Teatro Medieval, em cartaz no teatro do Centro Cultural Telemar. Nos anos 90, a companhia se notabilizou pela montagem de farsas impecáveis, como O Segredo Bem Guardado e Mestre por um triz, onde recorre ao vasto repertório dos contos populares. Depois de alguns anos nesta linha de trabalho, fiel à farsa e ao popular, a Cia. começa a evidenciar uma preocupação em construir momentos de forte interatividade com a plateia.

Em Estação Drummond, crianças são convidadas a subir ao palco para diversas brincadeiras. A estratégia contribui na condução da peça, iniciada pela autora Márcia Frederico com o poema emblemático, E agora, José?. Em seguida, ela passa por contos como O Poder Ultrajovem para criar situações que permitam dramatizar poemas e contos de Drummond.

A história proposta é a de uma família, a família Drummond, que perde o trem porque o menino Carlinhos tropeçou numa pedra que estava “no meio do caminho”. A obra do poeta surge em cena com foco em seu conhecido humor, que se estende, de forma ampliada, por todo o espetáculo.

O ambiente da época é recriado por uma inventiva estação de trem, cenário assinado por Heloísa Frederico, com pintura de arte que remete à época da infância de Drummond (1902 – 1987). É eficiente a criação desse clima de pequena cidade interiorana, numa referência a Itabira, cidade natal do poeta e elemento recorrente em sua obra.

Os figurinos, predominantemente em branco e preto, complementam, com eficiência, a recriação de época e os diversos personagens – o pai e a mãe de Drummond, o próprio poeta e um garçom da estação de trem onde se desenvolve a história. A luz precisa de Rogério Wiltgen trabalha, com sutileza, enfatizando elementos do cenário, dos figurinos e das cenas, que se tornam pequenos quadros iluminados que se integram, organicamente, à plasticidade do espetáculo.

Márcia Frederico, interpretando a mãe de Drummond, domina com competência o palco. Ela se utiliza de sua experiência com a farsa e busca o humor por meio da ampliação de gestos e expressões faciais, o que gera uma intensa comunicação com o público.
Josie Antello, como Drummond menino, tem uma atuação contagiante, um humor no tom exato, numa composição extremamente divertida que revela, mais que o poeta, a criança que este coloca em seus contos e crônicas. A atriz inicia sua participação brilhantemente, na teatralização do poema, E agora José?. Aí conquista definitivamente a plateia para todas as intervenções que virão em seguida.

Marcos Acher compõe com humor e talento o garçom da estação de trem, fazendo crescer seu personagem, que se torna marcante pela composição do talentoso ator. Rogério Freitas faz uma pequena participação no papel do pai do poeta e de alguns outros personagens. Marcos Edom, que assina a direção e também a trilha sonora, trabalha com algumas propostas cênicas que apontam para diferentes linguagens e conceitos, acabando por não construir um todo tão orgânico quanto seria desejável.

Estação Drummond, que se propõe encenar textos narrativos e poéticos de Carlos Drummond de Andrade, é um espetáculo de qualidade que trabalha com o poético e o lúdico para apresentar o universo do poeta ao público infantil.