Teatro de bonecos em tamanho natural ganha o público

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 14.05.2000

 

Barra

Bonecos de espuma em bom espetáculo 

O teatro de manipulação, tão falado, mas pouco visto, principalmente fora do circuito dos festivais ou do evento patrocinado, enfim chega ao palco. O grupo Seres de Luz, dos argentinos Lily Curcio e Abel Saavedra, radicados em Campinas, junto ao grupo LUMB, do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp, está se apresentando no Teatro do Museu da República, para uma plateia de crianças e adultos que acolheram o espetáculo com bastante simpatia.

No palco, os dois atores responsáveis pela criação e direção, usam principalmente a sua formação de clown para encenar pequenas cenas sem texto, mas de bastante movimento, que levam a takes fechados, formando cada um sua própria história. Dos quadros apresentados sem maiores ligações, se destacam Lição de Dança, onde além dos bonecos, se faz presente à boa performance mímica de Liv Curcio, Clotilde, a sedutora, onde Abel Saavedra representa um homem-panda muito divertido e Encontro, no qual os bonecos realmente contracenam e são utilizados em diversas dimensões.

Nesse teatro de títeres, o melhor não está na manipulação ou na confecção dos bonecos, mas na performance de ator treinado à exaustão na arte da mímica e na composição do clown. O boneco de espuma – modelo usado no espetáculo – não é bem o elemento mais bem visto no teatro de bonecos. Como último elemento a compor esse tipo de teatro, que tem como elementos clássicos a madeira, o papel, m a massa e o tecido, a espuma fica como “novidade”, que ainda não encontrou o devido respeito! Entre os bonequeiros e o público mais purista.

De qualquer maneira, esse teatro de bonecões, em tamanho natural, vestido pelo titeriteiro, apesar do apelo visual um tanto exagerado, ganhou a plateia comum como poucos espetáculos do gênero. O grupo argentino, que lembra muito em estética, a obra do também portenho Sérgio Mercúrio, autor do Titeriteiro de Banfield, que tanto sucesso fez no último Festival de Teatro de Bonecos de Curitiba, tem sua grande força no gestual. O colorido berrante do títere e sua confecção um tanto alegórica, tira do espetáculo o tom artesanal, tão cultuado pelo teatro de manipulação.

Espalhando Sonhos é um espetáculo que vem agradando, inclusive a crianças de pouquíssima idade, coisa difícil nos dias atuais, onde os encenadores centram suas produções para uma faixa mais ampla de público. Mesmo com elementos complicadores, a montagem chega à plateia como um bom momento de entretenimento. Para o teatro infantil, que atravessa uma fase difícil de público e de produção, a presença de espectadores no teatro lotado é a grande novidade da temporada.

Cotação: 2 estrelas (Bom)