Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 22.08.1992
Magia de um ótimo espetáculo
Com extensa obra literária publicada, além de textos teatrais de igual peso montado em todo o país, era de se esperar que Sylvia Orthof, como toda a grande dama, se utilizasse do popularíssimo dito popular “faz a fama e deita-se na cama”, e de lá só saísse eventualmente para uma badalada tarde de autógrafos, ou para credenciar um espetáculo teatral com sua assinatura na supervisão geral. Mas contrariando o comportamento natural das majestades, pulou do trono e pôs-se a trabalhar.
Ervilina e o Princês, em cartaz no mercado São José das Artes, traz a cena um espetáculo de Sylvia Orthof, onde a autora e diretora desempenha suas funções com a vitalidade de uma iniciante, aliada a sua longa experiência teatral. Do enredo simples e conhecido – só uma verdadeira princesa perceberia o incômodo o incômodo de um grão de ervilha embaixo de mil almofadas de penas -, Sylvia criou um espetáculo cheio de nuanças, dando a seus atores a rara oportunidade de brincar com a caixa do teatro e com a imaginação do público.
Com cenários e figurinos de tato, tendo como contorno apenas o pano de fundo negro, a encenação vai se transformando na frente do espectador em castelo, florestas, montanhas, mares e rios. Em cena, três atores se revezam em 20 personagens, mantendo um incrível ritmo que não deixam cair nem mesmo na troca dos figurinos, o que se constitui em um mistério, dada a agilidade da performance.
Ervilina e o Princês, além do criativo texto que usa figuras do nosso folclore, não de maneira didática ou ufanista, mas tirando delas a simples beleza, traz ainda surpreendente interpretação de Marise Manhães e Fernando Vianna, cheios dos toques de sua diretora. Indicada para crianças e adultos, esta montagem deve ser viste urgentemente por todos os profissionais das artes cênicas, sob pena que se torne verdadeira a antiga brincadeira entre atores: “onde você estava em agosto de 92 que não assistiu ao espetáculo de Sylvia Orthof?”
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)