Matéria publicada no Jornal Vanguarda Rio – Coluna Teatro
Por J. Rego Costa – Rio de Janeiro – 12.10.1948
Era Uma Vez…
Está sendo ansiosamente aguardada a iniciativa dos “Artistas Unidos” de encenar uma peça teatral para crianças – O Casaco Encantado de autoria da escritora Patrícia Lucia Benedetti.
Não é esta, de certo, a primeira vez que se trata entre nós, a realização de espetáculos desta espécie, há “Teatro do Gibi”, cujo patrocínio tem andado de Herodes para Pilatos; há também, o “Teatro do Polichinelo”, ainda em perspectiva, contando com elementos das “Operárias de Jesus”, uma casa que Accioly Neto me induziu a admirar. Houve – ou melhor, tem havido iniciativas esparsas, aqui e ali como, por exemplo, o Juca e Chico, que Geysa de Boscoli em tão boa hora fez encenar no JardeI, metendo na cabeça de meia dúzia de atores austríacos um texto português de duas horas de duração.
Agora, vamos ter O Casaco Encantado, para cujo sucesso, se não bastassem as suas qualidades intrínsecas de que o talento inconteste de sua autora é fiado, ainda concorre o fato auspicioso de que a peça está contando com o apoio artístico de nomes como Henriette Morineau, Flora May, Graça Mello, Fregolente, Orlando Guy, Mari Castro, cada qual com um papel singelo porém valioso, em que de certo saberão desempenhar a função deveras difícil de agradar à imaginação infantil.
Trata-se de uma peça fina, engraçada, cheia de situações imprevista, psicologicamente destinada a despertar o interesse e a vivacidade infantis. Ao que se anuncia, haverá um sem número de surpresas, fora do palco, propriamente dito: chuva de bala e bolas com figurinhas coloridas dos personagens, entre outras.
De todas as surpresas, porém, a mais curiosa será, certamente, o contraste sugerido pela performance dos atores, Henriette Morineau, como a “Bruxa”, provavelmente com a sua clássica vassoura, o seu nariz quilométrico, o seu chapéu de cartucho – será um desses espetáculos de marcar época pelo seu cunho pitoresco. Outros papéis são: o “Bruxo” – Graça Mello, que acumula as funções de Diretor; o “Alfaiate Mágico” – Dary Reis; o “Sapo” – Fregolente; a “Vovozinha” – Maria Castro; a “Princesa” – Flora May e seus cabelos louros; o “Manequim” – Orlando Guy (que não salte a ponto de bater com a cabeça no teto!); “O Relógio” – Nilson Penna; e “Rei”- Jacy Campos.
Basta, portanto, de falar sério; vamos dar um passeio no mundo da fantasia.
Um tema para meditação: quantos de nós adultos, céticos, desiludidos, não iremos encontrar em O Casaco Encantado um pouquinho daquela Pasárgada de que nos fala o poeta?