O espetáculo é uma produção criativa que une a arte dos titeriteiros a manobras circenses.

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 10.11.1996

 

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A Arte de viver na corda bamba

El Mágico Circo De Espuma, espetáculo de Alexandre Pring em cartaz no Museu da República, é uma produção criativa do autor e diretor, que até então se dedicava ao teatro de manipulação de bonecos. Pring, desta vez, ampliou sua técnica misturando a arte dos titeriteiros com manobras circenses, numa encenação cheia de surpresas.

Saindo do esquema comum, a esse tipo de espetáculo, sempre apresentado em espaços adaptados nos teatros convencionais, o diretor cria sua encenação num pequeno circo armado nos jardins do museu, onde a antiga lona foi substituída por uma moderna estrutura impermeável de bonito efeito visual.

A perfeita ambientação desta vez não conta só com manipuladores em cena, mas faz com que a trupe que dá vida aos bonecos seja também de artistas do trapézio, equilibristas de triciclos e outros malabarismo.

A história bem montada se apresenta em esquetes, onde não faltam os números do engolidor de facas, do homem bala, do mágico, dos palhaços e até de Konga, a mulher Gorila, personagem pra lá de cult, sempre em cartaz nos parquinhos das cidades do interior. Ao contrário dos boneconderos que usam trajes escuros para realizar a técnica do teatro negro – a manipulação oculta -, esta trupe usa e abusa dos figurinos vermelhos sem que a ousadia da estratégia interfira na articulação dos títeres.

Usando bonecos em diversas dimensões, Pring brinca com o teatrinho de sombra, de onde os atores saem como que por engano para que se dê à quebra do personagem. Usa também títeres de espuma e até fantoches de vestir. Este, em proporção superdimensionada, ataca a plateia, na figura de um leão.

O elenco, de fôlego invejável – formado por Cleber Oliveira, Olga Dalsenter, Ricardo Fruque e Nana Alves -, reveza suas performances, ora manipulando e contracenando com o elenco de espuma, ora investindo na arte circense com igual competência. O toque de originalidade destes novos acrobatas fica por conta da postura despreocupada com que realizam os entreatos. Sem músculos exuberantes, ou forma física muito superior a dos pobres mortais, a trupe dá a plateia à nítida impressão de que é muito fácil viver na corda bamba. Este é o verdadeiro truque dos grandes artistas.

O cenário criado pelo diretor mistura elementos de commedia dell’arte (um bufão é o centro da encenação) com os mais simples adereços dos cirquinhos mambembes (a galeria de tipos, Mulher Gorila, mágico, entre ouros, em alto relevo que circundam o ambiente).

A iluminação de Djalma Amaral, afinada com o circo espetáculo, é toda feita de focos precisos que ampliam o ambiente quando necessário, sem que se perca o tom intimista para a performance da manipulação.

El Mágico Circo de Espuma é um espetáculo diferente que transfere o público para um circo de verdade, sem nenhum tom de resgate apelativo. Diversão de qualidade para a jovem plateia.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)