Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.09.1999
Como programa de auditório
Em 1955, entrava no ar, competindo apenas com a Tupi, a TV Rio. Nesse mesmo ano nascia Lug de Paula, autor e ator de É Show, espetáculo no mais puro estilo programa infantil em cartaz no Teatro do Leblon (Sábado e domingo, às 17h). Coincidentemente, as semelhanças não ficam por aí. Filho de Chico Anísio e Nancy Wanderley, Lug foi praticamente criado nos estúdios do antigo canal 13. Por lá via o pai e a mãe, destacada na época, em matéria da Revista do Rádio, como umas das artistas que ganhavam mais do que o presidente da República, participarem dos programas de humor, da TV. De quebra, pegava uma casquinha no Noites Cariocas, O Riso é o Limite, Praça da Alegria, Big Lar Show, e é claro, Brotos no 13, onde Cidinho Cambalhota ensinava a dançar o Bostelá, Sassaruê e o Let’s Kiss.
Lug de Paula era feliz e sabia, mas a saudade só bateu mesmo ano passado, quando foi morar em Nova Iorque: “Ficava lá lembrando de quando era pequeno e minha avó me levava para ver os meus pais na TV Rio. Depois, quando já era um pouco mais velho, ia com a minha turma para a Tupi ver o Chacrinha. Nesse revival todo, foi dando vontade de montar um show para crianças no teatro. Tenho uma boa experiência com shows para crianças”.
E tem mesmo. O Show do Seu Boneco, personagem do ator para a TV, quando esteve no João Caetano há uns cinco anos, dispensava divulgação porque já estreava com a casa lotada por toda a temporada. Mas Seu Boneco tirou férias e Lug está investindo tudo no novo espetáculo: “Criança adora participar. Mas, geralmente, essa participação no teatro vem atrelada a produções de baixa qualidade, que confundem participação com gritaria. A criança gosta de se ver em cena e de estar em cena. Esse espetáculo foi feito pensando nisso”.
Feito quadro a quadro, com muitas vinhetas musicais que anunciam a próxima atração, É Show começa na porta do teatro, com as crianças se inscrevendo para os quadros do karaokê. Artista por um minuto e pagando mico. Já no auditório, os atores Heloísa Perissé, Lug, Betho Silva e Mônica Martelli, num figurino coloridíssimo de Maria Lucia Priolli, que também assina as coreografias do show, organizam uma gincana, pedindo que se levem para o palco objetos tirados da plateia, como chaveiro de time, grampos, meias e outras bugigangas. Classificadas para as provas, todas premiadas, com brinquedos, máquinas fotográficas e até uma bicicleta, as crianças sobem ao palco e se divertem. Os mais tímidos também não ficam de fora. Os apresentadores descem a plateia e fazem pergunta relâmpago do dia, envolvendo os mais variados assuntos. Quando o participante não sabe, o apresentador sopra, e ta valendo o prêmio. Trabalhando em família, Lug tem roteiro original em parceria com o irmão, Rico Rondelli, a mulher Heloísa Perissé, no palco, e Luísa, a melhor produção do casal, de dois meses, na coxia. Os que não são da família também entraram no clima, como o diretor do espetáculo, Ricardo Graça Mello, e o cenógrafo Evandro Mesquita. Com diz Lug: “Ta tudo em casa e a plateia sente esse clima. No final do espetáculo, fazemos uma pesquisa com o público e o show vai se modificando. As crianças pediram e já estamos atendendo. Elas querem que os pais também participem, querem concurso de dança e de piadas. É muito legal essa proximidade e dar um prêmio por essa participação também está sendo ótimo. Acho que o teatro tem espaço para esse tipo de espetáculo.”
E para quem acha que o show só está atraindo o público infantil, é bom avisar que tem muito adulto sozinho na plateia aplaudindo seus candidatos favoritos. Na certa, alguns saudosos do Boliche Royal, Espetáculos Tonelux ou Erontex da Sorte. Saudades da TV com jingle e do televizinho. Com tantos recuerdos no ar, É Show, veio na medida para matar essa saudade.