No museu: o realismo como ponto de partida. Foto: Paulo Medeiros

Matéria Publicada na Revista Isto É
Sem Identificação do Jornalista – Rio de Janeiro – 20.11.1985

 

Arte Animada ao Vivo

Contemplar passivamente um quadro ou escultura pode se tornar uma tarefa entediante para crianças e adolescentes pouco informados sobre artes plásticas. Pensando nisso, um elenco de cinco atores, egressos de alguns dos melhores grupos de teatro infantil, como o Hombu, Teatro Feliz-Meu-Bem e Ventoforte, decidiu dramatizar, para o público infanto-juvenil uma visita ao Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) do Rio.

Museu Animado é o nome do espetáculo que sob a direção de Tonio Carvalho e Sônia Piccinin, pretende ensinar arte às crianças de forma mais dinâmica. Serão 36 apresentações, no próprio museu, contratadas pela Fundação Pró-Memória, do Ministério da Cultura, através do Programa Nacional de Museus, sempre às terças e quintas-feiras, em duas sessões, às 10h30m e às 13h30m.

Tudo totalmente grátis.

“Nossa intenção é atender as turmas de 1º e 2º graus, de colégios estaduais ou particulares, que querem visitar o museu”, conta Cristiano Mota, um dos atores.

Tudo começa quando uma personagem, Dona Conceição, dona-de-casa, se mistura aos visitantes e procura no museu um retrato que, segundo lhe disseram, se parece muito com ela própria.

Esta busca de um realismo estreito, entretanto, se vê contrariada pelo roteiro da visita, que começa com os impressionistas da virada do século, como Eliseu Visconti (1866-1944) e Rodolfo Chambelland (1877-1967), passando por obras de forte cunho social do núcleo Bernardelli (trabalhos de Proença Sigaud e Quirino Campofiorito) até chegar a algumas telas modernistas de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e um enorme painel de Cícero Dias, datado de 1928. Isto sem falar em quadros dos anos 40 e 50 de Guinard, Pancetti, Di Cavalcanti, Djanira, Portinari.

Enfim, uma visão geral da arte brasileira, onde se vai, lentamente, decompondo a figura, reduzindo-a a linhas, cores e ângulos, como nos óleos de Maria Leontina e Tomie Ohtake.

Num segundo momento, a figura se recompõe nas correntes de nova figuração dos anos 70, como na série Envolvimento, de Wanda Pimentel, até os anos 80, como no Bispo (1980), de Roberto Magalhães, ou no neoexpressionismo de Orfeu, de Jorge Guinle Filho (1984).

Os alunos da 7ª série da Escola Municipal Ministro Afrânio Costa, que visitaram o MNBA na terça-feira, 12, riram e participaram do espetáculo, escrevendo ou desenhando. “Eu já tinha ido ao Museu da Quinta da Boa Vista” contou Simone Andrade, 14anos. “Mas com teatro é mais divertido”. Com poucos elementos de cena e figurinos simples, portanto, é possível repensar o espaço de exposições e aproximá-lo de um novo público. Resta  esperar que o projeto, bem vindo, seja estendido a outros museus.