Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 08.09.1975

Barra

Baltazar versus drástico

A proposta básica do grupo estabelecia a criação coletiva do espetáculo tomando, como ponto de partida, um roteiro de Nelia Tavares. Através de pesquisas realizadas entre a vivência do diretor, a vivência dos atores e as ideias essenciais da autora, é que a encenação iria tomando sua forma. E é no desequilíbrio entre a proposta pretendida e a capacidade (técnica e vivencia!) do material humano, que se encontram as causas da maioria das falhas de montagem. Com um grupo de atores excepcionais e com um diretor capacitado a arrancar o máximo do elenco, talvez tais intenções pudessem se concretizar. O que acontece, infelizmente, não é isso. E o que era um simples roteiro não consegue se transformar, nas mãos do diretor Antonio Carlos Limongi, em uma obra artística de peso. O resultado final é um trabalho que não extrapola os limites restritos de um esquema. E as informações ainda ficam um pouco confusas. O Drástico existe mesmo? (neste caso, dispersar-se o objetivo anunciado inicialmente: estimular a imaginação das crianças doentes). Ou o Drástico faz parte do jogo de imaginação criado pelo Dr. Baltazar? (E, aí, falta suficiente definição na linguagem dramática).

O espetáculo começa bem, dando a impressão de que haverá um progressivo enriquecimento da ação. A apresentação absorve o interesse da plateia, com os estímulos estabelecidos pela música, pelos slides, pelo movimento. Porém, com o desenvolvimento da encenação, o que se nota é o pouco uso da imaginação num espetáculo feito para estimular a imaginação das crianças; as marcas são na base do cada um por si (e, às vezes, os atores se esbarram), a coreografia é repetitiva, os atores não cantam bem, o ritmo é desprezado.

E cria-se um círculo vicioso: o espetáculo não rende por causa do material humano; e o material humano não rende porque o espetáculo é muito pobre. O elenco tem poucos elementos para sustentar. E acaba não se sustentando. Não tendo, para criar, personagens de carne e osso, eles atuam na base do salve-se quem puder. Faltam técnica e compromisso artesanal! – mas este não é um problema apenas deste grupo (e nem apenas do teatro infantil).

Mas o Dr. Baltazar Contra o Drástico tem muitas chances de melhoria. A autora Neila Tavares vem acompanhando os espetáculos e, juntamente com o diretor, tem procurado refazer os momentos que não estão funcionando. E agora, com mais espaço no Teatro da praia, e com novas músicas de Luiz Gonzaga Júnior (vamos tentar conseguir o concurso de outros bons compositores?) é possível que a montagem fique mais rica e amplie sua faixa de comunicação com o público.

Recomendações:

A Margarida Curiosa Visita a Floresta Negra, no Casa Grande; Estória da Moça Preguiçosa, no Quintal, em Niterói.