Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 23.09.1976
Dona Raposa, o Macaco Tá Certo
A nova peça de Jayr Pinheiro, Dona Raposa, o Macaco Tá Certo, em cartaz no Teatro de Bolso, é mais uma tentativa frustrada de obter um resultado pelo menos razoável no teatrinho do Leblon. Sei perfeitamente da dificuldade para a obtenção de bons textos e sei também que Jayr Pinheiro vem tentando lutar contra isso há algum tempo. Infelizmente, sua decisão de escrever Dona Raposa, o Macaco Tá Certo, ao invés de procurar textos de qualidade, provou que melhor seria ter pesquisado mais.
A peça é muito fraca, desenvolvendo-se através de inúmeras incoerências e de interferências totalmente arbitrárias por parte do autor. A incoerência básica estaria no fato de que a Raposa, caracterizada desde o início como uma charlatã, acaba também sendo uma boa médica, pois realiza algumas curas. O comportamento dos personagens não é lógico; o doente paga o absurdo de mil cruzeiros por um remédio e ainda deixa o vidro no consultório? Os personagens descobrem uma garrafa e concluem – com a mais ampla certeza – que o “amarelão” saiu dali. Mas a partir de que dados?
Como se vê, o texto de Jayr Pinheiro depende de certas violentíssimas “sherlocadas” que agridem o espectador. Além disso, existe sempre a preocupação moralista no Teatro de Bolso, onde o maniqueísmo é à base de todas as histórias e onde o mal sempre perde no fim. Mas vejam bem que, além de tudo, o arrependimento final não vem através de uma conversão ocorrida no interior do personagem. Ele não conclui que estava agindo errado e, por isso, passa a ter um comportamento diferente. Não, ele resolve mudar suas atitudes sob a pressão de pó-de-mico e purgante. O autor quer provar o quê? Que devemos fazer os maus (??) sofrerem para que se tornem bons (??)?
A direção, do próprio autor, também deixa a desejar. O espetáculo corre sem interesse e os atores mostram total indiferença. O aspecto visual carece da harmonia: os figurinos do Coelho e da Raposa são bonitos, enquanto os do Urso e os do Macaco são muito feios – neste aspecto, esses últimos entram em total harmonia com o paupérrimo cenário.
Ainda não será desta vez, com Dona Raposa, o Macaco Tá Certo, que o Teatro de Bolso conseguirá melhorar o nível de seu teatro infantil.