Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 07.01.1976

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Dona Lua Quer Canção

A trama proposta pelo autor Paulo Afonso de Lima é aquele prato cujo sabor todos já conhecem: existe uma situação de tranquilidade, aparece um vilão que desencadeia raptos, perseguições e nervosismo e, ao final, tudo volta à calma. Como se vê, nada de novo. O que é, então, que faz de Dona Lua Quer Canção um espetáculo que se pode recomendar aos nossos filhos? É que em Dona Lua… existe aquilo que falta a grande parte das montagens para crianças: uma visível preocupação com a produção do espetáculo. O grupo Realejo produções Artística começa bem sua atividades, pautando-se pela filosofia de que uma montagem de teatro infantil tem a obrigação de ser bem cuidada.

Não se afirma aqui que o texto de Paulo Afonso de Lima seja ruim. O autor trabalha bem em cima de um nonsense e de agradáveis trocadilhos (“Em mulher não se bate nem com uma sonata”), mas, no cômputo final Dona Lua... é uma peça que não consegue colocar-se acima da média.

A direção de Sergio Dionísio, um pouco claudicante no início do espetáculo, vai se firmando e cresce com o desenrolar da peça. A encenação tem um tom geral agradável e se assiste com interesse, apesar de não contar com momentos de excepcional criatividade.

O elenco é muito irregular, e Sergio Dionísio não conseguiu obter uma unidade no nível de interpretação. Os destaques ficam com Ivan Senna e Waldete Maria; os dois são comunicativos e trazem, sempre elementos de interesse para o público. Seus melhores momentos são na televisão (Waldete) e no jazz (Ivan Senna). O elenco apresenta uma incoerência básica: ao mesmo tempo em que os personagens são a música, os atores não sabem cantar bem.

Entretanto, está com Mário de Oliveira a parte mais positiva de todo o espetáculo; seus figurinos são de extremo bom gosto, imaginativos e causam um bom impacto visual. Funciona muito bem (e isso já foi provado mais de uma vez, com os desfiles do Salgueiro) a combinação do branco com o vermelho. Como cenógrafo, Mário de Oliveira não foi tão feliz. O cenário não chega a obter a unidade necessária.

Esperamos com atenção o próximo trabalho do Grupo realejo, pois com Dona Lua… torna-se bem patente a existência de uma preocupação com um espetáculo bem acabado. E isso fica muito claro ao se notar a existência de música ao vivo, quando a maioria das montagens está infestada do recurso (pobre) do play back.