Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.09.1999
A estrela Bia Bedran
Bia Bedran é uma dessas estrelas da vida inteira que, ao contrário de outras estrelas, resolveu que o seu brilho não seria fugaz. Sem nenhuma máquina sustentando sua carreira, seu trabalho é feito diretamente com o público. Assim, há três anos sem um show novo para grandes plateias, a cada vez que volta ao teatro enche a casa de crianças a serem conquistadas. E isso ela sabe fazer como ninguém.
O mais interessante neste novo trabalho, Dona Árvore, em cartaz no teatro Villa-Lobos, é justamente essa nova platéia em cena, quase como parte do espetáculo. As novíssimas crianças que lotam o teatro com certeza foram levadas por suas mães, que eram e ainda são fãs de Bia Bedran, desde os tempos do Bloco da Palhoça, nos anos 80, da Bia Canta e Conta, deAs Grades das Cidades, e até da superprodução para a Eco 92 Histórias da Mãe Natureza. Todos espetáculos consagrados na época em que grande parte da platéia não era nascida. É hora de flertar com a nova plateia. Depois da terceira canção, o namoro está selado. Daí por diante é amor pra vida inteira.
Bia, que desta vez divide o palco com sua filha Julieta Bedran, começa o espetáculo caracterizado de doce vovozinha, para logo depois se transformar numa espevitada contadora de histórias. É essa contadora que conduz a atenção das crianças para os números musicais. É fácil fazer uma platéia cantar junto os grandes sucessos das paradas, mas acompanhar um repertório inédito já é outra história. Surpreendentemente, ela consegue.
Com um roteiro bem amarrado, assinado por Douglas Dwigth e Fátima Valença, os mesmos deDolores, Bia e Julieta se revezam no palco nos papéis de mãe e filha, avó e neta, além de outros personagens. Dos contos escolhidos, Nuvem Triste e O Marido da Mãe D’Água são apresentados no palco com bonitos adereços que ilustram muito bem a história. Em outro recorte, cenas deGalileu Galilei, de Brecht. Tudo muito bem dosado, na medida do entendimento do público. Do começo mais simples sofisticação final. Na trilha musical, 14 canções dos mais variados ritmos: choro, modinho, samba de breque e rap.
Na festa animada de Bia e Julieta, tem banda ao vivo, com Paulão Menezes na percussão, Ricardo Pacheco no teclado, Guilherme Bedran no violino e Sérgio Chiavazzoli e Daniel Sant’Ana nos violões e bandolim. Os figurinos são de Ney madeira, mas não tem a marca autoral do artista. Ficou faltando o toque mais artesanal que marca bem o trabalho de Ney. Também a iluminação de Djalma Amaral perdeu a assinatura. Sem os pinos e os adereços iluminados, ficou faltando no palco a tal “luz personagem”, como ele mesmo se refere a seu trabalho. Talvez os dois profissionais tenham, propositalmente, recuado no adereçamento do espetáculo para deixar a estrela brilhar no palco sem muita “maquiagem”. Ela consegue.
Dona Árvore, é um show dedicado a todo mundo. A platéia , novíssima, ou nem tanto, agradece.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)