A dupla de atores usa brincadeiras infantis nos jogos dramáticos


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 25.05.1996

 

Barra

Conflitos em fábula urbana

Dois Idiotas Sentados cada qual no seu Barril é uma adaptação teatral feita por Dudu Sandroni e Fátima Valença a partir do livro de Ruth Rocha, uma das mais interessantes autores de literatura para crianças. O texto – uma espécie de fábula urbana que discute conflitos de todas as ordens, tendo com base os conflitos pessoais – chega ao palco supercredenciado por ouras montagens, inclusive a do próprio Dudu Sandroni como diretor. Com estrutura muito bem delineada, a peça é o veículo ideal para performance de dois atores que se revezam em cena nas muitas ações propostas pelo texto.

A montagem do Planetário da Gávea, com direção de André Matos, também atuando no espetáculo, e de Rubens Camelo, tem aparato técnico de qualidade. Porém falta à encenação um pouco mais de unidade e ritmo, condições imprescindíveis para que conte essa história feita de cenas estanques que se interligam num clima crescente de tensão até o inusitado desfecho.

No palco, dois astronautas de outro mundo, ou melhor ainda só mesmo mundo, tentam se comunicar numa estranha linguagem até descobrirem que a princípio falam a mesma língua. Para desmistificar o velho ditado que diz que é conversando que a gente se entende, a dupla passa a viver situações conflituosas a partir de jogos dramáticos onde usa brincadeiras infantis, as armas do Velho Oeste, as lutas de esgrima e, muito convenientemente, as relações amorosas. Na disputa pelo poder cada qual, com seu barril, pode detonar o mundo a qualquer momento. E é para este final, assim, que eles se encaminham.

A dupla de atores, André Matos e Roberta Repeto, está bem à vontade em seus papéis na maior parte do tempo. Principalmente Roberta, que dá agradáveis nuances a seus personagens, numa composição muito próxima da plateia que assiste, sem, no entanto, banalizar os tipos. André Matos, no entanto, abusa do caricatural e da comédia pastelão em algumas cenas, desperdiçando bons momentos do espetáculo, como o do pai com bebê. Um retrato do cotidiano de um jovem casal levado às últimas consequências em palavras e ação. O anticlímax da separação, porém, acaba diluindo o impacto da cena final, que chega como uma desconcertante surpresa.

Os cenários de Lídia Kosovisky, que cobrem o picadeiro do teatro com o mapa-múndi, e seus barris cenográficos de onde saem todos os adereços da peça, são criativos e funcionais. No entanto, perdem o seu encanto quando jogados em cena depois de utilizados. Uma poluição visual promovida pela direção do espetáculo, ainda em tempo de ser resolvida.

Dois Idiotas Sentados cada qual no seu Barril
 tem como maior atrativo um texto cheio de intenções, que, com alguns ajustes ritmo e de passagens na direção, sem dúvida nenhuma se tornaria mais atraente para a plateia de crianças e adultos.

Cotação: 2 estrelas (Bom)