Barra

O teatro de títeres, de bonecos e de sombras estão entre as expressões mais antigas de nossa cultura. Cada civilização tem em suas raízes teatrais e literárias, formas dramáticas ligadas ao teatro de animação que com os séculos tem evoluído em diversas e extraordinárias modalidades.

Basta pensar nas diferentes variantes nascidas na era medieval, desde as representações sacras aos mistérios, ou às Natividades realizadas com bonecos, marionetes e estátuas articuladas. O intercâmbio entre o teatro de atores e o de animação tem sido sempre fecundo e multiforme: por exemplo, desde a Idade Média, a máscara passou de uma forma teatral a outra, enriquecendo-se e absorvendo caracteres de diferentes cenas.

Entre os muitos encantos do teatro de animação em particular, o que sempre me tem fascinado é a comicidade, sobre tudo dos fantoches: grandiloquente, paradoxal, que é, portanto, uma linguagem própria e fundamental deste tipo de teatro, sendo também da palavra, da situação dramática e cênica inteligente e eficaz. Uma comicidade que não aborda somente a gesticulação, mas também a palavra, a situação dramática e cênica, tornando-se freqüentemente numa crítica feroz e exagerada, mas sem que jamais seja o objetivo em si mesmo.

Os bonecos são, em si, uma síntese do ator centrada quer seja na ilusão do movimento, ou seja, sobre sua exacerbação. Não somente. No teatro de figura convergem todas as linguagens teatrais numa forma muito intensa e essencial.

É por isso, que também considero pessoalmente o teatro de animação como uma enorme fonte de inspiração. Ocorre comigo em relação ao títere o mesmo que com a pintura: nos momentos que me bloqueio e não consigo prosseguir com meu trabalho, pondero sobre a seqüência de um espetáculo de títeres, por síntese como um croqui, é assim como quando crio por síntese, garimpando situações cênicas, a intriga dramática se desfaz nesses momentos.

Os títeres têm estado presentes e continuam estando em meu ofício. Naturalmente, isto deve em grande parte à Franca, à tradição de sua família, que ela soube conservar e amar. Como inciso direi que os Rame, num certo período de sua vida gestaram com grande êxito uma companhia de títeres após terem trabalhado no teatro de ator por mais de sessenta anos.

Desde meus primeiros espetáculos tenho utilizado bonecos ou marionetes. Começando pela“Grande pantomima con puppazi piccoli e medi” (grande pantomima com títeres pequenos e médios) onde a metade dos personagens eram interpretados por títeres. A última experiência com “guinhol” foi uma encenação com Franca e Giorgio Albertazzi no espetáculo “Il diavolo con le zinne”.

Para terminar quero recordar que no caso da “Grande Pantamima” utilizamos não somente pupazzi (marionetes), como também títeres conhecidos como catalães (luva de três dedos) e outros enormes de mais de três metros de altura. Neste caso demonstrava que ao romper a uniformidade dos meios expressivos se produzia um enorme valor teatral, não previsto nem por nós mesmos que os havíamos idealizado.

Como devem ter percebido gosto de títeres e o Dia Mundial do Títere organizado pela UNIMA é para mim a oportunidade de expressar em voz alta a alegria que artistas e criadores sentem cada dia, por todo o mundo quando atuam com títeres e formas animadas.

Barra

Notas

Mme Franca Rame é a esposa do Sr. Dario Fo.

Barra

Dario Fo
Prêmio Nobel de Literatura 1997. Mensagem de Dario Fo para a União Internacional da Marionete (UNIMA) pela comemoração em 2006 do Dia Mundial do Títere, em 21 de Março.