Bruno Bross (E), Polyana Ginard e Fernando Continentino estão em Despertar, mais uma peça para adolescentes

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.02.1994

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Tragédia em tons adocicados

Os cultuadores de Frank Wedekind e seu O Despertar da Primavera, fonte inspiradora da peça Despertar, deve, passar longe do Teatro Casa Grande, onde o espetáculo cumpre temporada. Vendla virou Wanda, passa bem e vai à praia no Arpoador. E todo o clima velado do texto de Wedekind também foi por água abaixo, como, digamos, uma onda no mar .

Sem ressacas, porém, o texto de Tiago Santiago fala explicitamente de problemas muito particulares ao público adolescente, ao qual a peça é dirigida. Wanda, ao contrário do resto de sua turma, continua virgem. Para maiores informações, as jovens discutem a eficiência da tabela Máster & Johnson e do coito interrompido, a maneira de identificar a ovulação e a presença de esperma no líquido lubrificante masculino, tudo num diálogo do tipo direto ao assunto, com vocabulário bastante claro.

Na turma dos rapazes, menos didática, Mel, o namorado de Wanda, fala de suas transas com a vizinha mais velha, Maurício reclama de sua total inadaptabilidade à vida real (o que acaba em suicídio) e Pepê se exercita estimulado por fotos de Madonna. A direção de André Felipe e Tiago Santiago recheia o espetáculo com números musicais coreografados por Cláudio Moreno (Blue Jeans e Banana Split), suavizando algumas cenas, como a dos rapazes que acendem um baseado e se beijam na boca – o que, por incrível que pareça, ainda causa desconforto na plateia.

Os cenários de Eduardo Felipe, concebidos em telões de diversos tons de verde, iluminados adequadamente por Aurélio de Simoni, dão a exata impressão de beira-mar que o texto exige. Os figurinos, que também poderiam ser usados pela plateia, fornecem o toque final de informalidade ao espetáculo.

Com algumas substituições – saíram Caio Junqueira, Janaina Diniz e Fábio Villa Verde – o elenco se ajusta aos novos papéis, Renata Leão interpreta Wanda com delicadas nuances. Fernando Continentino é o namorado Mel, tirando partido tanto de cenas de humor como de outras mais sérias. A Duda Villa Verde cabe o papel mais difícil da peça, já que a personagem conserva os traços trágicos do original de Wedekind, destoando totalmente do resto. Sua aparição após a morte é mal realizada. Quase um equívoco. Num papel episódico, Eduardo Cardoso, o Pepe, marca sua presença pela vitalidade.

Despertar reproduz na estética o que se convencionou chamar teatro para adolescentes. Até o número de abertura, com o elenco em desfile, comum aos espetáculos Namoro, Se Você me Ama e Banana Split, entre outros, se repete. A diferença se faz notar nos cuidados da produção e na resistência do autor de não cair no digestivo total. O que, nos tempos atuais, já é muito.

Despertar está em cartaz no Teatro Casa Grande, às sextas e sábados, às 19h30, e aos domingos, às 19h. Ingressos a CR$ 1.500.

Cotação: 2 estrelas (Bom)