O elenco da peça apresenta desempenhos desiguais no palco.
Foto Silvio Pozatto

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 08.04.1995

 

Barra

Sem o clima do original

Aloísio de Abreu, autor e diretor da peça Des-contos de Fadas, é um ator conhecido por suas performances bem-humoradas no palco. Em seu primeiro trabalho para o público infantil, escolheu como fonte inspiradora à obra de Monteiro Lobato. Sua história, tirada de uma das aventuras de O Sítio do Picapau Amarelo, é aquela onde os personagens dos contos de fadas, tiranizados por Dona carochinha, resolvem abandonar o livro e s e mudar com castelos e bosques para a casa de Dona Benta. Do original, Aloísio aproveitou personagens clássicos, como Branca de NeveAlice (a do País das Maravilhas) e Chapeuzinho Vermelho, mas acabou trocando a liderança revolucionária do Pequeno Polegar pela de Peter Pan, e o Sítio pela realidade urbana atual.

Apesar de todas as boas intenções, o texto chega ao palco em cenas fragmentadas, onde todo o clima aconchegante do Sítio do Picapau Amarelo se perde. O enredo fica um tanto prejudicado em seu entendimento. Afinal, porque aqueles personagens fugiriam para um lugar tão desagradável?

Com um elenco em sua maioria composto de jovens estreantes, o espetáculo apresenta performances desiguais, em função não da qualidade do interprete, mas da empatia de cada ator com seu personagem.

Assim, Amora Gonzaga se destaca como a prenda dos pampas, mas fica pouco a vontade no papel de fada. O mesmo acontece com Bernardo Palmeira e Nina Pêra. Ainda inseguros nos papéis de Peter Pan e Alice, revelam todo seu humor nos personagens dos pampas. Luiza Adnet é uma tímida Chapeuzinho Vermelho, que acaba conquistando a plateia com os gestos exatos que usa para compor a menina mal-humorada da história. Outros atores, como Inês Cardoso, Isabella Sechin, Duda Ribeiro e Bruno Miguel, são prejudicados pela inconsistência de seus personagens.

Apostando na linha de composição bem-humorada, Sandra Pêra (dona Carochinha) e Danielle Barros (Cinderela) arrancam boas gargalhadas da plateia, mas sem dúvida nenhuma é Márcia Cabrita quem rouba todas as cenas

Com problemas na parte técnica, os figurinos de Fábio Namatame reproduzem, na maioria das vezes literalmente e de maneira constrangedora, o padrão Disney, e a luz de Maneco Quinderé não tem o requinte habitual que marca a carreira do profissional.

Apesar dos entraves, Des-contos de Fadas é feito com o maior respeito à plateia a que se dirige. Mas alguns acertos no ritmo da encenação podem melhorar esse diálogo.

Des-contos de Fadas está em cartaz no Teatro Leblon (sábados e domingos, 17h). Ingressos a R$7.

Cotação: 2 estrelas (Bom)