Matéria publicada no Jornal do Brasil, Caderno B
Por Roni Filgueiras – Rio de Janeiro – 09.09.1989

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Depois da Calmaria

Depois de três semanas de calmaria nos mares dos espetáculos infantis, os bons ventos tornaram a soprar esta semana com novas e (algumas) interessantes montagens. São sete as peças estreantes: Um Conto de Hoffman (Teatro d Aliança Francesa de Botafogo), A Fuga do Planeta Kiltran (Teatro Tereza Raquel), Palhaçadas (Teatro SESC Tijuca), O Mistério das Fraldas (Teatro da Galeria, Tuti e sua Turma (Teatro Glória), O que se Mostra e o que se Esconde (Teatro do Planetário) e Aprendiz de Feiticeiro (Teatro da Aliança Francesa da Tijuca).

Montagem bem cuidada, feita com delicadíssimos cenários e figurinos de época e alguns atores inteiramente de papel Um Conto de Hoffman é mais uma montagem do experiente grupo de teatro de animação Sobrevento. Baseada em libreto de Jules Barbier para a ópera homônima do compositor alemão Jacques Offembach. Um Conto nos mostra a história de um amor impossível entre um rapaz apaixonado por uma bela jovem, sem saber que o seu objeto de amor é na verdade uma boneca, réplica perfeita de mulher. A peça tem direção do ator e jornalista Luiz André Cherubini e figurinos de Elida Astorga. No elenco de verdade, Sandra Vargas, Andrea Freire, Miguel Vellinho e Daniel Marques.

Ele não para de criar e inovar, e seu nome já é garantia de um bom espetáculo. Depois de sua última investida teatral em Contos do Alquimista, o premiado autor e diretor Luiz Duarte – Cinderela Chinesa e Irmão Grimm, Irmão Grimm – reaparece em A Fuga do Planeta Kiltran.  Escrita especialmente para o grupo teatral Cia. de Clowns, a peça é ambientada num planeta terrível e árido, onde quatro pirralhos se envolvem em mil peripécias, acudidos nos piores momentos por adultos. O espetáculo resume de forma bem himorada o eterno conflito entre o mundo infantil e o de gente grande.

Uma comédia policial, meio história em quadrinhos, com tratamento de seriado de TV e com sofisticados – e caros – efeitos de raio laser. É assim que O Mistério das Fraldas, de Paulo Cattá e direção de Atílio Ricco, pretende conquistar o público infantil e tirar os pais do marasmo das tardes de sábado e domingo.

O mistério do título refere-se a um roubo do estoque de fraldas de uma fábrica, cujo dono, o empresário mau-caráter Toni Treme, resolve contratar o famoso detetive Bob, o Máximo – uma mistura de protótipo de detetive dos filmes B americanos e do Ted Tigre do comercial de TV – para solucionar o caso. Auxiliado pela sua fiel e fútil secretária, a boazuda Senhorita Lolita Linda – interpretada por Cristina Mullins -, Bob consegue pegar os malfeitores, um bando de fantasmas da dinastia Ki-horror. Em suma, um festival de engraçados clichês, onde os pequenos e os marmanjos podem se divertir com as falas e entonações caricaturais dos personagens.

Com um investimento de NCz$ 110.000,00 – só o aluguel do tal raio fica NCz$ 2.800,00 por sessão – bancado, entre outras pessoas pelas rainhas dos baixinhos Xuxa Meneghel e Angélica, além da socialite Lilli de Carvalho, o espetáculo terá toda renda revertida para as crianças carentes aidéticas.

As outras novidades ficam por conta de Palhaçadas, dos premiados Tônio Carvalho e Markus Avaloni, uma recriação sobre o universo dos palhaços, onde um experiente ator circense tenta passar sua vivência para o bisonho aprendiz; O que se Mostra e o que se Esconde, de Maria Helena Khüner, um musical encenado pela Cia. Carioca de Teatro Dança, formada por atores bailarinos; Aprendiz de Feiticeiro, da consagrada Maria Clara Machado, na qual um cientista e seu discípulo pretendem ingenuamente acabar com a fome no mundo com fórmulas para o crescimento de alimentos – seria mais eficiente fazer crescer os cérebros dos homens -, e Tuti e sua Turma, baseada no retrógrado e moralista livro homônimo de Belinha Elkind, que conta as triviais aventuras das menina-prodígio do título e colegas de bairro. Esperemos que a peça seja melhor que o livro.