Crítica publicada no Jornal do Brasil
por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 08.04.2006
Performance e humor
De A a Zigg não é teatro propriamente, mas diverte e conquista as crianças
De A a Zigg é uma performance do premiado autor e ilustrador Ivan Zigg, em cartaz no Centro de Referência do Teatro Infantil/Teatro do Jockey, comemorando os três anos de existência do Centro. A direção e a coreografia são de Beto Brown, que também assina o figurino, cenário e a trilha sonora, estes em parceria com o próprio Ivan Zigg. O roteiro e o texto foram feitos em colaboração com Denise Crispum. Para refletir sobre esta performance, é preciso entender que o palco, hoje, não abriga só montagens dramáticas, mas qualquer expressão artística.
Por trabalhar diversas linguagens, De A a Zigg se insere na diretriz do Centro de Referência, que realiza anualmente o Encontro de Linguagens, período em que recebe espetáculos nacionais e internacionais, que trabalham também expressões, como música e dança, entre outras. No palco, Ivan Zigg começa contando, por meio de pantomima, de mímica, o início do dia de um profissional de criação, que se dirige ao seu escritório o Boa Ideia. Esta é a parte mais teatral da performance, que se apoia da linguagem das HQs e no cinema de animação, tangenciando o nonsense.
Ivan Zigg se auto intitula o homem-desenho-animado, nesta abertura lembra o inesquecível Mr. Hulot, personagem criado pelo cineasta francês Jacques Tati. Mas, depois deste início, a palavra é introduzida no espetáculo e a partir daí, Ivan Zigg não consegue dar continuidade a este promissor começo.
Pequenos textos são ditos e são ilustrados, em cena. Além de contar suas histórias, Ivan canta, dança, enfim, complementa sua performance com todos os recursos possíveis. Como autor e ilustrador Zigg exibe um talento incontestável, mas como ator e cantor, deixa a desejar. Há dificuldade, inclusive, para se entender o que ele fala e o que ele canta, apesar do aparato técnico que o auxilia no palco.
O trabalho de Ivan Zigg é bastante conhecido sobre tudo por seu humor. E é exatamente a partir deste humor espontâneo de Zigg que Beto Brown consegue construir um personagem verossímil.
A performance tem um entorno teatral bastante simples. No palco nu, algumas peças cenográficas, criam uma ambientação harmônica: uma cama, uma mesa, um rádio. A iluminação de Djalma Amaral acompanha a simplicidade do cenário econômica e eficientemente, o que condiz com a proposta do espetáculo. Dentro da mesma linha, ficam os figurinos – um terno e uma roupa de dormir localizam o universo da casa e do escritório do personagem. A trilha sonora de Lula Montagna também se harmoniza com a proposta.
A performance é, na verdade, uma ampliação dos lançamentos-animados que Ivan Zigg faz para seus próprios livros e que agora tentam ganhar o contorno de espetáculo. No entanto, a força cênica de Zigg não é suficiente para se manter no palco com o vigor que o espaço exige, ainda que consiga expor sua visão crítica do mundo.
Mas Beto Brown guia Ivan Zigg tirando dele o que ele tem de melhor – como já foi dito, o seu humor personalíssimo. Com isso, mantém o ritmo da apresentação no universo do teatro. Mas não se trata de um espetáculo teatral propriamente dito, e sim de uma apresentação-espetáculo de um autor e ilustrador, que consegue transitar pelo palco, graças á mão segura do diretor.