Crítica publicada no Jornal Papo Teatro
Por Mônica Maurer de Oliveira – Jan 1994

De Boas Intenções o Inferno Está Cheio

Um tema tão delicado e grandioso como o nascimento do menino Jesus, e as incertezas causadas sobre essa realidade presente na vida da Virgem Maria e José fizeram com que o texto adaptado pelo estreante Henrique Tavares, com direção e participação especial de Luiz Mendonça, se transformasse em um divertidíssimo espetáculo.

O cenário de Henrique Celibi ficou com um ar muito singelo, devido às flores coloridas, a algumas pedras espalhadas e às nuvens angelicais em forma de carneirinho que enfeitavam o pequeno teatro em forma de arena.

Gradativamente, o palco foi sendo iluminado pelas competentes mãos do mestre Aurélio de Simoni e, ao soar dos sinos, um anjo aparece em Belém procurando desesperadamente Maria – muito bem interpretada pela atriz Carla Faour -, a fim de cumprir a sua missão.

De como quase tudo deu errado é um musical que consegue prender a atenção de todos os espectadores, principalmente pela linguagem utilizada no texto – totalmente diferente dos moldes convencionais da Bíblia – , seno muito adequada e de fácil compreensão para o público infantil.

Vivido com  bastante vigor por Paulo Giannini, o carpinteiro super bem-humorado José dava um toque muito real aos seus diálogos, entremeando suas falas com palavras engraçadas,  algumas pertencentes ao nosso cotidiano, outras em inglês, merecendo destaque a parte em que ele chama Maria de Mary e quando diz  que está down. Creio que as crianças, muitas delas ainda pequeninas não tenham entendido nada, mas a ideia foi genial! Tão avançado e moderno como ele, o anjo, o anjo Gabriel – interpretando pelo hilário João Carlos Soares – não tinha telefone celular, mas, em contrapartida, possuía dicionário, bíblia, fita métrica, lupa e até mesmo óculos escuros, e o diabinho fofoqueiro Brasa – que o próprio autor da peça interpretou – que conseguiu fazer com que, através de suas falcatruas e seu jogo duplo, quase tudo desse errado.

O segredo do sucesso foi, sem dúvida alguma, a combinação teatro-aprendizado, e, dessa mágica, descobrimos um espetáculo com uma grandeza notável, principalmente por enfatizar, em meio a sorrisos contagiantes, a importância de um sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro.

De como quase tudo deu errado
Texto adaptado por Henrique Tavares
Direção Luiz Mendonça
Com Carla Faour, Paulo Giannini, João Carlos Soares entre outros
Teatro Cacilda Becker
Rua do Catete, 338 – Largo do Machado
Tel. 265-9933
Sábados e domingos às 17h