Este é o título do texto para teatro, de Rogério Blat, que escolhi para trabalhar com os participantes da oficina de “Leitura Dramatizada”, durante a semana do VII Festival de Teatro Infantil de Blumenau, em agosto de 2003. A escolha se deu em função da sua excelente constituição dramatúrgica, da atualidade dos temas abordados, pela crítica visão de mundo que propõe, pelos diálogos em prosa e verso, enfim, por considerar esta obra como uma das nossas melhores ficções de teatro destinadas ao público jovem. Rogério Blat, pela obra que vem construindo, já se inclui entre os melhores autores da dramaturgia infanto-juvenil brasileira, encenada desde as últimas décadas do século XX.
Dentre os objetivos traçados para a Oficina, destacava-se o de reafirmar que o texto teatral só ganha existência plena na encenação. E, por consequência, o de que uma leitura apenas se torna um fato da arte cênica se aproximar da concepção de uma montagem.
Buscamos no trabalho configurar um desenho, um estilo de espetáculo. Dada a variedade de linguagens da escritura textual, optamos por idêntica heterogeneidade na composição da cena. Os leitores levantaram-se das cadeiras, tornaram-se intérpretes em movimento, passaram a viver suas personagens agindo, em busca de uma teatralidade para a obra textual. Afinal de contas, “teatralidade não é ornato. É o cerne, o principal comunicador”. (1)
Ao longo dos ensaios, todos estivemos balizados pela consciência de um público-alvo. Nosso espectador seria primordialmente formado por pré-adolescentes, adolescentes e jovens. Aos poucos fomos gestando na imaginação nosso interlocutor imaginário, o que era condição imprescindível para que a Oficina não resultasse numa experiência amorfa, anódina.
Assim, quando encerramos o projeto, pudemos constatar que um espetáculo cênico se havia preparado, ainda que lhe faltassem outros recursos de linguagens. Mas uma concepção de montagem do “D.N.A. Brasil” estava verticalizada.
Por isso mesmo fomos levados a enunciar aos que tiveram a oportunidade de assistir ao exercício final que se tratava de uma “leitura encenada” do texto.
Não poderia ter sido diferente, tendo em vista a vibrante pulsação criativa encenada na obra, tendo em vista o talentoso elenco no qual se revelou o conjunto de participantes.
(1) BALL, David. Para trás e para frente. São Paulo, Editora Perspectiva, 1999, p. 58. Oficina Leitura
Lauro Góes
Mestre em Comunicação e Doutor em Letras, Rio de Janeiro.
Obs.
Texto retirado da Revista FENATIB, referente ao 7º Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (2004)