Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 18.01.1976

Barra

D. Lalá, A Ratinha Cantora

Todas as grandes deficiências deste espetáculo têm sua origem nas enormes deficiências do texto de Carlos Nobre. Além de ser bastante falha estruturalmente, a peça é, além de tudo uma imitação (má) de temas mais que explorados. Desafio quem consiga me mostrar uma pessoa que nunca tenha ouvido uma história como essa: uma rata tem, como grande sonho, ser cantora. De repente, entra pela sua casa um desconhecido (com um comportamento sempre misterioso e falso) e se apresenta como empresário, prometendo conseguir um contrato para a ratinha cantora se apresentar no Municipal. D. Lalá (a cantora), fica tão contente que resolve hospedar o empresário. Logo depois surge um amigo com a notícia de que um ladrão fugiu da polícia. (Haverá alguma dúvida de que o fugitivo é o falso empresário?). Momentos depois, o tal amigo vem dizer que descobriu tudo; o ladrão é o empresário. Mas ninguém fica sabendo como foi que ele soube disso. E, então, quando se pensa que vão prender o ladrão vem a grande novidade. Resolvem não chamar a Polícia porque D. Lalá poderia até passar mal. Não adianta continuar. Isso já vale como uma amostra das virtudes (??) do texto. A acrescentar, apenas, outra grande novidade (??) ao final, com o ladrão desmascarado, fica-se sabendo que ele é um pobre infeliz que não tem companheiros e que resolve , então, se regenerar, pois todos prometem que serão seus amigos se ele jurar que vai ser bonzinho.

É quase impossível realizar um bom espetáculo com um texto de tal nível. E a direção de Brigite Blair é falha como a peça. A ação corre sem interesse, não há imagens expressivas, o trabalho dos atores é preguiçoso e na base do mais fácil (neste elenco salva-se a atriz que faz Mimi; seu trabalho não é nada excepcional mas, em compensação, ela tem segurança, comunicabilidade e passa uma certa verdade). Os figurinos são indescritíveis; o que de pior se tem visto nos últimos anos, numa mistura de cores absolutamente absurda. Os adereços seguem o mesmo caminho e aquela veia é um exemplo clássico é um exemplo clássico de mau gosto e de criatividade desorientada.

Enfim, D. Lalá, A Rainha Cantora é um texto fraco e um espetáculo ruim.