Os atores Carolina Bello e Ricardo Shöpke na belissima floresta feita de pontos de luz


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 16.07.1995

 

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Deliciosos ‘causos’ brasileiros

Roger Mello, o autor de Curupira, é o mesmo que há quatro anos fez sua estreia em teatro com Uma História de Boto Vermelho, que acabou lhe rendendo o Prêmio Coca-cola. Com roteiro cinematográfico, o boto ganhou na direção de Ricardo Shöpke – o mesmo de Curupira – a teatralidade necessária para que a história não perdesse, no palco, a plasticidade original do texto.

Requisitado ilustrador de livros infantis, Roger monta suas histórias num equilíbrio exato de imagens e palavras. Escolhendo mais uma vez o folclore brasileiro como tema principal, o autor não se furta a inserir em seus escritos alguns causos, que criam vida na pele dos personagens.

No interior de Minas, dois irmãos contam histórias de medo, ao cair da noite, no quintal de casa. Numa mistura de sonho e realidade, passam pelo local uma mariposinha que foi encantada pela velha da embolada, a moça bonita das águas e o Curupira em seus vários disfarces.

Porém, se a história é rica em personagens, a trama não é de fácil entendimento. Aqueles primeiros dez minutos fatais, em que o autor deve prender a atenção do espectador – regra básica para um enredo de surpresas – são perdidos num diálogo longo, onde o poético da cena ganha mais relevo do que a história contada.

Investindo na plasticidade do espetáculo, Ricardo Shöpke – que, além de dirigir, está no palco em vários papéis -, talvez pelo excesso de tarefas a cumprir, não teve o distanciamento necessário nem tempo hábil para costurar as cenas, o que teria tornado o enredo mais linear.

Se o começo é complicado, o que se segue é muito atraente. Cercado de elementos técnicos de alta qualidade, Shöpke conduz a encenação com riqueza de detalhes. A iluminação de Djalma Amaral cria – num palco plano, sem os recursos convencionais – uma floresta impactante, toda feita de pontos de luz. O céu que se abre sobre a mata e até a cachoeira estilizada são elementos fundamentais na encenação. Os figurinos de Mauro Leite, com exceção da roupa do velho da floresta – traje pesado, que varre quase todas as folhas do cenário -, são alegres e coloridos e têm como ponto alto os adereços.

Em cena, Marcelo Mello se destaca pela naturalidade com que encarna o matuto, ganhando instantaneamente a simpatia da plateia. Ricardo Shöpke ainda não encontrou o tom exato de seu personagem e Carolina Bello é tímida em sua interpretação da moça das águas.

Com perfeita cenografia, Curupira é um show de efeitos, de muito bom gosto.

Cotação: 2 estrelas (Bom)