Crítica publicada pelo Jornal O Globo
Por Mánya Millen – Rio de Janeiro – 21.08.1999



Boas intenções se perdem no ritmo oscilante

Achar no palco, e sem cair no exagero, o tom e o gesto certos para cativar um olhar cada vez mais acostumado ao ritmo frenético da TV e do computador já exige um enorme equilíbrio. Encarar com um monólogo essa plateia sempre dispersiva é, portanto, um desafio maior ainda. Mas a atriz Fatima Café, que já havia pisado nessa delicada corda bamba antes, no interessante, mas intrincado Fadas, Bruxas e Madrastas, volta ao exercício em A Cozinheira de Histórias – peça que assina do texto á direção, passando pela cenografia e adereços – em cartaz no Teatro do Museu da República.

Sem conquistar o equilíbrio ideal, Fátima já mostrou um espetáculo muito mais acessível que o anterior, quando costurou uma série de fábulas da literatura universal infantil para abordar a simbologia feminina nestes contos. Agora, ela volta-se para as histórias do folclore brasileiro. No palco, é a cozinheira de um castelo comandado por uma rainha bruxa, e, enquanto prepara um jantar, vai desfiando a histórias. São fatos que já aconteceram por ali há muitos anos e que ela presenciou ou ouviu de sua mãe avó – e aí Fatima explica a força da tradição oral dos contadores de histórias como ela.

O fato de trabalhar com o folclore brasileiro já confere maior cor, viço e graça a esta peça. Em sua estreia como cenógrafa e aderecista, Fatima cria um figurino composto por legumes e verduras de espuma e, com panelas e galinhas cenográficas como coadjuvantes, consegue atrair o espectador. Ainda assim, a peça padece de oscilações de ritmo – alguns graves como no final muito seco – e acaba frustrando a boa intenção do conjunto.