Gilberto Gawronsky e Ricardo Blat interpretam, um menino rico e outro pobre, sem esconder do público que são adultos fazendo papel de crianças respectivamente. O estilo cria sintonia entre os dois atores e mais credibilidade para a platei a

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 04.05.2003

 

Barra

Cosme e Damião:  Peça em cartaz no Teatro Ziembinski discute a resistência às diferenças

Teatro para criança com linguagem de adulto 

Nas cenas, a peça  Cosme e primeiro Damião  em cartaz no Teatro Ziembinski, pode causar um certo estranhamento na plateia. Afinal, não é comum um espetáculo dirigido ao público infantil que tenha só dois atores no palco. Na verdade, duas figuras, bastante estranhas: carecas, com dois tufos de cabelos coloridos na cabeça e roupas exóticas. Passado o primeiro susto, tudo começa a fazer sentido.

O argumento de Gilberto Gawronski, também diretor e um dos atores do espetáculo, trata das diferenças sociais tão transparentes e cada vez mais influentes no ritmo de vida e na forma de carioca. A ideia de Gawronski foi desenvolvida por Pedro Pontes, que criou uma história de dois meninos de origens diferentes que se conhecem na escola. E apesar de Luca morar no morro e Digo, num condomínio de segurança máxima, os dois acabam se aproximando pelo desejo incontido de comer doces. Daí as referências aos santos  Cosme e Damião  no espetáculo.

Projeções de vídeo são achados do espetáculo

O texto – despretensioso – é valorizado pela montagem de Gilberto Gawronski. O diretor instiga a imaginação das crianças, usando pequenos truques. Como, por exemplo, fazer com que os atores se escondam atrás de pequenos cartazes pintados e, só as mãos à mostra, passem a imitar as vozes das mães dos personagens, que não aparecem na peça.

Também é muito interessante a solução para a cena em que os dois meninos saem pela cidade à procura de doces. As imagens que passam num telão no fundo do exibem os lugares (todos bem conhecidos pelos cario palcos) por onde os meninos vão passando. Aliás, todas as apresentações em vídeo são um achado no.

No palco, Gilberto Gawronski vive o menino rico, dividindo a cena com Ricardo Blat, que interpreta o pobre. Pelo acúmulo de muitos anos de talvez trabalhando juntos, eles conseguem alcançar uma experiência perfeita em cena. Além disso, os dois atores se saem bem vivendo os meninos, pelo fato de não tentar esconder da plateia que são adultos interpretando Crianças. O que valoriza e torna mais decorativo o menino de Blat é que o ator lança mão da ginga dos malandros cariocas na composição do personagem.

A equipe técnica do espetáculo está afinada com a proposta do diretor. O cenário diferente de Cláudia Moraes é criativo e funcional, dando a duas grandes escadas, que ficam no fundo do palco, funções no decorrer da peça. E, dúvida, a luz de Paulo César Medeiros, o vídeo de Vica Nabuco, o figurino de Marcela Virzi ea caracterização de Hélio Dias não só contribuem mas são imprescindíveis para o tom de modernidade do espetáculo.

Depois de algum tempo descobre crianças-se que  Cosme e Damião  causa um certomento por ser um espetáculo para que utiliza uma linguagem de teatro para adultos. E isso é ruim?

Claro que não. Basta que se quebre a resistência às diferenças. Não é sobre isso que fala a peça?