O jovem elenco valoriza com seu humor o musical carioca

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 11.03.1995

 

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Um ‘point’ para os adolescentes

A diferença entre um espetáculo comum e um point teatral é o ar de fã-clube que caracteriza o segundo, Copacabana de Paulo Afonso de Lima, é um desses fenômenos. Lançada nos anos 80 com o título de Rocky Stallone – pois foi escrito sobmedida para o ator Marcelo Ibrahim, em razão da sua semelhança com o garanhão ítalo-americano Sylvester Stallone -, Copacabana é a versão tupiniquim do filme Rocky, um Lutador, ambientado na princesinha do mar.

Substituindo o Bronx pela Praça Serzedelo Correia, o Roque local é também um boxeur que acredita numa tradução muito pessoal do sonho americano de que qualquer cidadão pode ser o presidente da República. No seu caso específico, o sonho é ser o detentor do cinturão de ouro do ranking mundial do boxe, em sua categoria.

Mas, como bem lembra o revelador ditado ianque, “depois que Abraham Lincoln foi presidente nenhum outro lenhador chegou a Casa Branca”. Assim, Paulo Afonso Lima troca o american dream pelo humor carioca, dando um colorido especial aos inverossímeis personagens dessa comédia musical.

A direção de Don Carrera investe pesado nos números musicais e consegue comunicação imediata com a plateia jovem. Com um elenco de atores – cantores, principalmente Patrícia Evans, que se destaca pela incrível musicalidade, o espetáculo ganha força em sua trilha sonora. O texto, na verdade, serve apenas como ponte para as canções. Sempre tão malvistas, as piadas internas e a quebra dos personagens, que fazem críticas ao próprio espetáculo, desta vez funcionam além da expectativa, transformando-se numa gostosa brincadeira com o teatro.

Como ponto alto do espetáculo, os arranjos de Charles khan e Nilton Luís suprimem o tom agonia das músicas de Oswaldo Montenegro e Mongol. No entanto, as coreografias de Rosana Fachada, ao contrário de seus trabalhos anteriores, mostram-se pouco criativas, em nada contribuindo para o ritmo do musical.

Muito à vontade no palco, Jonathan Nogueira e Isabella Bicalho interpretam Roque e a namorada, sem muita complicação e sem a preocupação de elaborar os personagens além do necessário. Sandro Cardoso tem ótimas tiradas de humor, em sua visão crítica da encenação, e o mesmo acontece com Patrícia Evans. Don Carrera, além de adaptar e dirigir o espetáculo interpreta o garoto Kid, treinador de Roque, mas ainda está um pouco tímido no papel – e o mesmo ocorre com as atrizes Cássia Leal e Flávia Seixas. Os figurinos de Lídia Kosowski e a iluminação de Aurélio de Simoni não chegam a comprometer, mas estão muito aquém dos trabalhos que esses profissionais já realizaram.

Enfim, Copacabana é um point para rever amigos, cantar juntos à trilha sonora, saber das últimas e badalar no shopping depois do espetáculo. Divirtam-se.

Copacabana está em cartaz no Teatro Vanucci, de quinta-feira a domingo, as 18h30. Ingressos a R$ 10 (quinta e sexta) e R$ 15 (sábado e domingo). Meia entrada para estudantes.

Cotação: 2 estrelas