O elenco da peça, no Teatro Ziembinski: atuação irregular, que rende algumas boas cenas cômicas

Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 22.05.2005

 

 

 

Barra

Confuso e simplório

As Confusões de João Minhoca desperdiça potencial

O espetáculo As Confusões de João Minhoca com texto de Lula Braga, em cartaz no Teatro Ziembinski é inspirado no universo cultural nordestino e seus tipos característicos. A trama vai sendo construída, em tom de farsa. O núcleo da história é o casamento de interesse que um coronel tenta impingir à filha, que ama outro. Paralelamente se desenvolve uma trama secundária, que fala das peripécias de um charlatão e seu ajudante João Minhoca.

O desenvolvimento de duas tramas com o mesmo peso, em dramaturgia, é uma tarefa difícil de ser realizada. Para resolver esta questão, as situações dramáticas vão sendo costuradas ao longo da apresentação, sem conseguir manter, no entanto, uma unidade de ação.

Esta forma de costurar diversos segmentos para chegar à situação central dificulta ao espectador se envolver com a história, criar suas simpatias e antipatias – fundamentais para que o espetáculo se realize plenamente. Como disse o diretor Peter Brook a beleza de uma peça está na qualidade e na perfeição que o público é capaz de nela de identificar. E nem sempre As Confusões de João Minhoca se pauta por esta afirmação.

As Confusões de João Minhoca deixa também a desejar na realização das diversas linguagens que tecem o espetáculo teatral. O cenário, de Lulu Lear, remete a um arraial do interior, no entanto, mas sua concepção estética não cria um produto artístico. Há apenas um painel no fundo do palco, com uma cortina que muda de acordo com a cena. Bambus sustentam uma gambiarra – imagem que reproduz literalmente a memória de cenários de festas juninas do interior. Muitas vezes o simples é a melhor expressão do belo. Mas, neste caso o simples se confunde com o simplório.

Os figurinos de Helena De Lamare, conseguem melhor resultado artístico que a cenografia, mas mesmo assim deixam a desejar também na sua concepção estética.

A trilha sonora, de José Luiz Rinaldi, não auxilia em nada nem a ambientação, nem cria os diversos climas do espetáculo, passando quase que despercebida, quando não se contrapõe à encenação.

O elenco tem atuação irregular. Marco Aurélio Hamellin, que faz o personagem João Minhoca, se desincumbe bem de sua função, mas, apesar de fazer o papel-título, não tem o peso que deveria ter como aquele que “engendra” a trama. Cláudio Amado, que faz o charlatão, é um ator de muito mais recursos do que apresenta, embora domine a cena toda vez que está no palco, pelo seu carisma e talento.

Helena De Lamare e Vini Messias que fazem os coronéis Manuel Quirino e Tião Barbosa têm uma composição caricata, que extrapola ao exagero da farsa, assim como Renato Albuquerque que faz o noivo. A empregada Ritinha, interpretada pela atriz Eliza Pragana, domina bem o tempo de comédia e tem presença cênica.

As Confusões de João Minhoca repousa sobre a cultura popular brasileira, um potencial inesgotável para a realização de espetáculos de alta qualidade, com muito mais potencialidades a serem desenvolvidas do que a direção conseguiu realizar. O que salva esta montagem é a capacidade de comunicação de alguns atores, especialmente o charlatão e a empregada – com o público, além de algumas situações cômicas.