Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 15.10.1994
As crianças se revelam
O surto do teatro confessional foi inaugurado por Confissões de Adolescentes, a partir de fragmentos do diário da atriz Maria Mariana, acrescido de depoimentos de suas companheiras de palco Carol Machado, Ingrid Guimarães e Patrícia Perrone, e continuado por Confissões das Mulheres de 30. Tal surto parece ter vindo para preencher uma lacuna – senão na tão falada crise da dramaturgia, pelo menos na ocupação dos lugares na plateia. Confissões Infantis, o mais novo rebento da série, chega obtendo, com seu público-alvo, a mesma identificação que seus antecessores.
Ultrapassando os limites do convencional, o texto de Lenita Plonczynski, se comunica diretamente com as crianças do mundo moderno, que têm na mesma estante livros de contos de fadas e games interativos. São estas crianças que, sem nenhum constrangimento, falam no palco dos seus medos, amores e preferências. Ora num depoimento muito pessoal, ora reproduzindo situações de humor em suas imitações de pai e mãe.
A direção de Cristina Bethencourt e Paloma Riani coloca no palco os atores e suas verdades de maneira delicada. Ressaltando o conteúdo sem, no entanto se descuidar do formato, as corajosas diretoras concebem um movimentado espetáculo, tornando-o atraente além das fronteiras familiares.
Fugindo completamente a estrutura dos eventos mirins, tão comuns as festas de encerramento na escola, onde os infantes cantam e dançam para alegria de seus pais, o jovem elenco embarca na brincadeira teatral com determinação. Representando/ vivendo situações às vezes compreensivelmente inconfessáveis, principalmente para um adulto, eles têm a imediata empatia da plateia quando expõem com muita naturalidade não só suas experiências felizes, mas suas perdas e rejeições.
Do palco, Fábio Alves confessa a plateia já cativada por seu natural carisma como ele e sua mãe nunca chegaram a um acordo sobre o momento ideal para iniciar o regime. Kananda Raia, sem nenhum falso pudor, declara seu amor pelo pai e sapateia como gente grande. Marina Thompson não se importa de demonstrar que mesmo com seu glamour de estrela na hora da raiva emburra e faz bico como qualquer criança da plateia. A ruivíssima Vivian Lila detesta ser chamada de cenourinha. Seu depoimento sobre a perda do pai é de surpreendente sinceridade e sem apelos lacrimogêneos. Rodrigo Khan, sem inibição, fala da vergonha que sente quando tem que pedir a alguém para namorar.
Confissões Infantis, mais que um evento teatral, é a revelação das novas crianças, em cena e fora dela. Por coincidência, chega num momento em que se discute o que é ou deve ser o teatro para crianças, o que esta vai ou não entender. Um bom começo seria conhecer de perto essa nova geração e seus pensamentos. Porque, enfim, é conversando e às vezes confessando que a gente se entende.
Confissões Infantis está em cartaz no Teatro BarraShopping, aos sábados e domingos, às 15h30. Ingressos a R$ 7.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)