Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 11.06.2005

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Confabulando: Peça explora o universo das fábulas, valorizando os diferentes de cada história e as habilidades específicas de cada ator

Magia que mantém os olhos infantis grudados no palco

No espetáculo Confabulando, em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal, os nove atores do elenco desdobram-se em entre os narradores e os personagens das sete fábulas que são apresentadas ao público. Algumas histórias, na verdade, são mais interessantes do que as outras, mas isso não chega a comprometer a montagem como um todo.

A narração de histórias é feita por um grupo de camponeses, após uma colheita de flores. A partir daí, Danyelle Espinelli cria um bonito cenário; preenchendo as laterais do palco com cestas de vime, vasos de barro e caixotes de madeira cobertos de flores. Além deles, apenas uma rústica mesa de madeira e seus bancos, que, ao longo da apresentação, integram-se aos diferentes ambientes solicitados por cada fábula: O figurino de Elaine Cerqueira segue a mesma linha, vestindo as atrizes com as tradicionais roupas usadas pelas mulheres do campo que são diferenciadas umas das outras apenas por pequenos detalhes, como um avental bordado ou uma saia colorida.

O cenário, os adereços e os figurinos ajudam a compor um ambiente leve, propício ao final feliz que realmente aconte­ce em fábulas como “Verdade e Falsidade”, que abre e encerra o espetáculo, “Nariz de Prata”, “A Irmã do Conde” e “Moça-Maçã”. Já em outras como “Dois tipos de Sorte”, “O Tesouro Encantado” e “A Flauta Miraculosa”, que retratam sentimentos como a ganância, a inveja, a cobiça e o ciúme, os delicados elementos de cena ajudam a suavizar o lado mais obscuro das histórias.

O elenco, apesar de numeroso, é bastante, homogêneo. Ao longo do espetáculo, Cláudia Burlamarqui, Liane Mufarrej, Lúcia Souto, Marcele Benigno, Pablo Áscoli e Ribamar Ribeiro conseguem corresponder às exigências dos diferentes personagens encontrados nas fábulas. Destacam-se na peça as atrizes Camila Moreira, especialmente como a Miséria, de “Dois tipos de Sorte”, e como Lúcia, de “Nariz de Prata”; Larissa Machado, como Ivanuska, a irmã assassinada em “A Flauta Miraculosa”, a fábula mais impactante do espetáculo, e como a Moça-Maçã; e Bia Mussi, como a Condessinha de a “Irmã do Conde”, uma fábula encantadora, que agrada em cheio ao público.

A bela iluminação de Fred Tolipan reforça a magia necessária a uma boa narração de histórias, assim como a direção musical de Regina Luccatto, que recorre apenas à instrumentista Joana Bergman, tocando violão – nos momentos em que os atores cantam – e utilizando instrumentos de percussão na trilha incidental. A eficiente preparação corporal de Márcia Rubin se faz presente nos desenhos coreográficos que marcam as passagens de uma cena para outra, e na própria narração das histórias.

André Paes Leme se mostra competente na direção de Confabulando, valorizando os diferentes climas de cada fábula e as habilidades específicas de cada ator. E as crianças respondem bem ao empenho do grupo, mantendo os olhos bem grudados no palco durante toda a apresentação do espetáculo.