Matéria publicada no Jornal A Noite
Por N.M. – Rio de Janeiro – 15.10.1948
Como se fez O Casaco Encantado
No domingo próximo as crianças cariocas estarão se divertindo com um espetáculo teatral organizado especialmente para elas.
Nunca será demais fazer – se o fato de que nossas crianças estão quase que desprovidas de recreação apropriada. O cinema oferece pouca coisa.
Não é todos os dias que Walter Disney lhes dá Branca de Neve. Os programas além de escassos, são muitas vezes de má qualidade.
A estreia de Casaco Encantado, de Lúcia Benedetti, reveste-se portanto, de uma significação particular. A empresa do “Artistas Unidos”, do Ginástico, anuncia que três nomes serão lançados com O Casaco Encantado: – Lúcia Benedetti, autora; Graça Mello, o diretor e Nilson Penna, cenógrafo e figurinista.
Três nomes já populares que se consagram à nova atividade artística. Trazemos hoje o pequeno depoimento Lúcia Benedetti sobre suas experiências como autora teatral. O público que lê, há de estar lembrado da maneira entusiástica com que a crítica recebeu Entrada de Serviço, livro com que estreou no Romance. Suas crônicas, contos, traduções tem público certo. Vejamos o que a autora diz:
Torna- se muito difícil falar no Casaco Encantado, pois me lembro imediatamente de Morineau às voltas com sua vassoura encrencada e me ponho a rir. É quase miraculoso “ver-se” um personagem depois de tê-lo criado. Posso viver cem anos que não me esquecerei nunca mais da grande trágica de Medeia no seu humilde papel de feiticeira errada, que apanha do marido.
Tinha já feito alguma coisa para crianças antes desta peça?
Sim. Um livro de histórias publicado pela Livraria Globo, “Chico vira Bicho e Outras histórias”. Já está esgotado há anos. Era minha intenção continuar escrevendo histórias para crianças, mas a carreira Literária da gente é uma coisa muito misteriosa. Parei nesse livro.
Como lhe veio a ideia de escrever O Casaco Encantado?
Com certeza conhece Francisco Pete. Há anos está retirado das vidas teatrais, mas dedicou quase toda a sua existência ao teatro. Foi ele quem, desejando montar uma companhia para o público infantil, encomendou-me a peça de estreia. Mas, conforme lhe disse, a arte é mesmo um mistério e Francisco Pete não conseguiu levar adiante o seu intento. A única coisa concreta que resultou disso foi a minha peça. Eu a li pra uns amigos. Parecia que estava destinada a ser apenas lida quando a situação se alterou.
De que maneira?
Paschoal Carlos Magno. Foi lida também por ele E já que tenho chance de dizer publicamente sobre Casaco Encantado, peço-lhe que registre o meu agradecimento a esse admirável animador do teatro nacional. Foi ele quem levou a peça a Morineau. Depois de lida a peça,ela assumiu o comando desse movimento a favor das crianças brasileiras. Henriette Morineau, que proporcionou às plateias adultas emoções estéticas inesquecíveis, decidiu oferecer as crianças momentos de alegria e bom humor. Penso que nós, que tanto lhe devemos no território da arte, seremos obrigados, a acrescentar-lhe mais esse título, ou então passaremos por uns feios ingratalhões.
Considero-me uma autora de muita sorte por ter tais intérpretes e a direção maravilhosa de Graça Mello. A este maestro e ao maestro Mazzaroni, eu tenho muito que agradecer pelos inestimáveis serviços que prestaram ao Casaco Encantado.