Crítica publicada na Última Hora
Sem Identificação do Jornalista – Rio de Janeiro – 02.07.1980
Teatro Infantil Precisa de Promoção
A peça Panos e Lendas de José Geraldo Rocha e Wladimir Capela está comemorando 100 apresentações! Sem dúvida, um recorde, porque dirige-se à plateia infantil. E, como se sabe, esse tipo de teatro enfrenta problemas, que começam com preconceitos entre os próprios profissionais do setor e continuam com a dificuldade de verba e divulgação.
Ivan Merlino, ator, diretor e produtor da peça, está apresentando o espetáculo, ao lado de cinco outros atores, “escolhidos a dedo”, no Teatro Sesc da Tijuca. Em julho, último mês de apresentação, haverá sessões de quinta-feira a domingo, pela manhã e de tarde, “pois há um público frequente nesses oito meses em cartaz”, conforme diz Merlino.
E a razão de tanto sucesso? Ele conta que os autores escreveram Panos e Lendas depois de consultarem mais de 30 livros de folclore. “Então – diz- ordenaram suas ideias e surgiu a peça, que tenta resgatar uma cultura brasileira cada vez mais suplantada pela imposição cultural do exterior”. O objetivo é apresentar à criança um Brasil esquecido.
Apesar de dirigida ao público infantil, a peça tem atingido também os adultos que saem do teatro lembrando de uma infância que eles tiveram, mas que seus filhos não têm mais. E essa mesma reação talvez ocorra em outros teatros do Rio que convidam o grupo para apresentações, a exemplo de estabelecimentos de São Paulo e Curitiba, segundo Ivan.
Para quem não sabe, a peça já obteve nove prêmios desde que entrou em cartaz no Rio, mas para os atores o prêmio maior é a recepção das crianças. Elas identificam-se mais com a personagem de uma menina reprimida, a quem os pais proíbem de fazer tudo. No final da peça, as crianças correm ao camarim para falar com ela, para conversar.
Como se vê, o teatro infantil não carece de plateia, mas de promoção. É, praticamente, um campo virgem de investimentos que espera apenas por um empresário hábil e bem intencionado para desenvolver-se. Os empresários atuantes mostram-se desinteressados, o Governo idem e, dessa forma, o gênero infantil enfrenta a precariedade em todos os sentidos.
Não há autores suficientes, não há atores suficientes, não há produtores suficientes, nem há teatros suficientes. Ou seja, falta tudo. E Ivan Merlino atribui toda essa carência ao preconceito que existe em relação ao gênero. “Talvez tudo isso tenha começado – diz – com atores de antigamente, que faziam teatro infantil só para ganhar dinheiro”.