A minhoca contorcionista é um dos melhores momentos da peça infantil Circus, em curta temporada na Casa de Cultura Laura Alvim


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.03.1996

 

Barra

Descoberta para pais e filhos

Bonequeiros ou titeriteiros, como preferem ser chamados, são os profissionais de uma arte considerada sem escolas no país, que se dedicam ao teatro de animação e manipulação. Entre outras características, eles dificilmente se encontram nas temporadas regulares dos teatros, mas têm suas carreiras pontuadas por participações em festivais dentro e fora do país.

A Cidade Muda, grupo de São Paulo, formado pelo diretor e roteirista, Eduardo Amos, pelo criador, roteirista e manipulador, Marco Antonio Lima e pelo roteirista e manipulador Cláudio Saltini, responsável pelo espetáculo Circus, em curtíssima temporada no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, é um desses raros casos do teatro de animação, que, além de se apresentar para iniciados, conquistou seu público na plateia comum.

Circus é um espetáculo para dois atores que apresentam, em sua barraca cenográfica, os mais inusitados números circenses. Dentre eles, o grande sucesso da temporada fica com as minhocas contorcionistas, realizado com manipulação aparente, mas não totalmente explícita. O movimento elegante e sincronizado desse bailado se destaca dos demais números não só pela técnica que é utilizada – os bonecos são presos por um fio à cabeça do manipulador – mas também pelo acerto na confecção do simpático títere.

Outros números como a mosca bailarina, que jamais consegue terminar seu número – também feita com manipulação aparente -, os ovos adestrados que desafiam a morte se jogando de uma altura incalculável numa minúscula piscina- feita com diferentes bonecos para o mesmo personagem -, as avestruzes cantoras- bonecos de luva – e o faquir engolidor de espadas -, misturando a manipulação aparente com o boneco de luva -, têm o grande mérito de demonstrar diferentes técnicas completamente adequadas ao senso de espetáculo. Coisa rara na exibição dos virtuosos dos festivais.

Na montagem, a palavra é substituída pelo gesto do clown e pela trilha musical que, em alguns momentos, lembra Nino Rota, e em outros embarca no mais puro jazz, criando assim o ambiente ideal que muito se assemelha ao teatro de variedades de Fellini. Com a plateia participando intimamente do espetáculo, Circus cria um ambiente ideal para torcidas organizadas de seus artistas mais desenvoltos, e a complacência do público com os propositalmente menos favorecidos. No intervalo, o manipulador Marco Antonio Lima, veste um boneco elefante que molha a plateia conquistada sem a menor cerimônia.

Circus, inaugurando verdadeiro teatro interativo e de participação espontânea, tem ainda como grande achado o fato de ser apreciado inteiramente por crianças de menor faixa etária, que, dessa vez, têm o prazer de levar seus pais ao teatro, não para explicar a peça, mas para participar de uma descoberta. O resultado é contagiante.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)