Paideia discute justiça e ética com o público jovem

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 26.06.2015

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Paideia discute justiça e ética com o público jovem

Com música de muita qualidade e encenação épica, Círculo de Giz propõe reflexões sérias sobre temas bastante atuais

A mesma velha lenda chinesa que originou uma das mais famosas peças de Brecht, obra-prima do chamado teatro épico, ‘O Círculo de Giz Caucasiano’, serve de base também para o novo espetáculo da Cia. Paideia, em cartaz em sua sede, em Santo Amaro. Depois de estrear, com sucesso, nas cidades alemãs de Berlim e Düsseldorf, Círculo de Giz chega a São Paulo indicada para toda a família e crianças a partir de 9 anos. A Cia. Paideia de Teatro encenou Círculo de Giz na Alemanha como parte do intercâmbio de cinco anos com o grupo Grips Theater, de Berlim. O texto da peça é assinado pelos alemães Armin Petras e Lara Kugelmann e foi montado pelas duas companhias ao mesmo tempo. Petras é um reconhecido dramaturgo em seu país, que, pela primeira vez, escreve um texto para crianças e jovens. Em setembro de 2015, será a vez do Grips Theater vir ao Brasil apresentar a sua montagem desse mesmo texto, com direção do alemão Robert Neumann.

O espetáculo conta a história de um garoto hospitalizado que decide encenar e dirigir uma peça que represente fatos de sua vida. O jovem (Carolina Chmielewski) escolhe uma fábula dos tempos da China antiga e os atores da história são sua mãe (Camila Amorin) e os funcionários do hospital. Tudo culmina em um julgamento, em que o menino é disputado por duas mães: a verdadeira e uma usurpadora (Aglaia Pusch). Mas como saber qual é a verdadeira, se ambas assim se apresentam? A solução final virá do juiz (Flávio Porto), personagem-chave que, para resolver a questão, lança mão de um círculo traçado no chão com giz. Depreende-se da história que a verdadeira mãe é aquela que não conseguirá, de jeito nenhum, fazer a criança sofrer. O elenco traz ainda Ana Luiza Junqueira, Rogério Modesto e Valdênio José, veteranos da companhia.

Carolina Chmielewski desta vez destaca-se do grupo fazendo uma certeira caracterização do menino protagonista. Não cai nunca na caricatura fácil, nem nos riscos de reproduzir estereótipos. Seu gestual, seu trabalho de voz, sua entrega ao personagem saltam aos olhos da plateia. Reparem nela. E fiquem também atentos à música da peça, extremamente competente, com letras que ‘conversam’ diretamente com a trama, bem ao estilo épico brechtiano. O diretor musical é Marcos Iki, que também assina a autoria das músicas, ao lado do diretor Amauri Falseti e de Jan Messias Lensing. A primeira canção já começa no saguão do teatro, lindamente convidativa ao mergulho na imaginação.

Destaco também o trabalho impecável de Telumi Hellen e Clau Carmo, que assinam cenografia e figurinos. Biombos brancos de hospital são utilizados de forma ágil e plástica. E as roupas são puro brilho e capricho, com referências orientais corretíssimas. Prestigiem. Há uma sessão, às quintas, só para escolas, que têm pela frente um prato cheio para degustar com seus alunos em sala de aula: questões relativas à ética e à justiça, com todos os seus meandros e implicações. Parabéns à Cia. Paideia de Teatro, por mais essa bela escolha, que resultou em uma atração urgente e necessária.

Serviço

Cia. Paideia
Rua Darwin, 153 – Santo Amaro (ao lado do Boa Vista Shopping)
Tel. 11 5522-1283

Às quintas, às 10h30 (para escolas, com reservas prévias)
Sábados e domingos, às 17 horas
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia)
Até 5 de julho