Matéria publicada no Jornal do Brasil
Por Flora Sussekind – Rio de Janeiro – 02.10.1981
Circos, cigarras e fogos num animado fim de semana infantil
Em termos de variedade de opções, talvez há muito não se tivesse um finala de semana tão movimentado para o espectador infantil. Há de tudo. É só escolher dentre circos, shows musicais, ópera caipira, adaptações e alguns bons espetáculos teatrais. As opções variam do excelente Circo de Moscou no Maracanãzinho, onde a perfeição técnica dos números consegue superar a falta de um picadeiro e de um clima tipicamente circense: ao confuso e estranhamente sedutor Circo Garcia em Niterói, com sua mistura meio kitsh de falhas e brilhos, circo e revista.
De uma ópera caipira como As Três Luas de Junho e uma de Julho, no Teatro Cacilda Becker, com direção musical de Ronaldo Mota e texto de Tônio Carvalho, premiado no concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro de 1980; a espetáculo ecológico como Te Amo Amazônia, de Paulo César Coutinho, em temporada no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes.
Adaptações respeitosas como a do Grupo Tapa para O Anel e a Rosa, de Thackeray, no Teatro Gláucio Gill; ou irreverentes como o novo espetáculo do Tablado, Os Cigarras e os Formigas, onde se brinca igualmente com a fábula, a história de Romeu e Julieta e a família brasileira.
Shows como o do Bloco da Palhoça – Cantos de Trabalho, cujo eixo é a pesquisa do folclore musical brasileiro, além da exibição, ao olhar de uma criança de cidade grande, de realidades regionais a ela desconhecidas; ou o MPB-4 no Canecão, Adivinhe o que é?, cujo jogo cênico, entre música e mímica, faz do espetáculo e da direção de Benjamim Santos alguns dos pontos altos da temporada teatro infantil de 1981.
Igualmente um ponto alto da atual temporada é Brincando com Fogo, cartaz do Teatro Ipanema. Montado pelo Grupo Manhas e Manias, premiado no ano passado com o Troféu Mambembe pelo melhor espetáculo infanto-juvenil, Brincando com Fogo é espetáculo quase obrigatório para os frequentadores habituais de teatro infantil.
Basta lembrar a cena em que uma criança, diante de repetidos choques com regras familiares e ordens as mais diversas, vai ficando cada vez mais “cheia”. Até que, como um balão, sobe, sobe e vai parar no teto do teatro. Ou da cena em que duas irmãs brigam por uma barra de chocolate, numa imitação de luta de boxe. As cenas se sucedem no espetáculo como sketches circenses, onde o que se representa não é apenas uma luta entre atrizes-clowns ou a ascensão de um menino-acrobata, mas as situações familiares mais corriqueiras. Só que narradas pelo Grupo segundo um ponto-de-vista infantil. Só que representadas não segundo as regras do jogo teatral, mas de acordo com um ponto-de-vista circense. É nessa opção por uma perspectiva infantil para enfocar o lugar da criança na família, e pelo jogo irreverente com a linguagem teatral e a performance circense, que se situa Brincando com Fogo com um dos mais inovadores espetáculos para crianças deste ano. E, não é à toa que tenha obtido sete indicações para o Prêmio Mambembe de 1981, segundo a votação divulgada esta semana pelo SNT. Estão indicados pelo 1º semestre de 81, José Lavigne pela direção; Chico Diaz, como ator; e todo om Grupo Manhas e Manias pela autoria de Brincando com Fogo, pelo figurino, pela expressão corporal, pela produção, e enquanto movimento inovador da linguagem de teatro infantil carioca.
Dos espetáculo ainda em cartaz também receberam indicações Fátima Malheiros, atriz de A Gema do Ovo da Ema; e Flávio Antonio, Charles Myara, Denise Wainberg, atores e Eduardo Tolentino, diretor, todos do Grupo Tapa, responsável pela montagem de O Anel e a Rosa. Talvez valha a pena conferir.