Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – 23.06.2006
Brincar em cena pode ser simples
O Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude, em parceria com o Clube Militar, elaborou, uma programação voltada para o público infantil, até o final do ano. Espetáculos de sucesso de público agora fazem parte do CBTIJ em Ação, projeto de ocupação dos teatros, com o objetivo de apresentar entretenimento de bom nível para crianças e adolescentes.
A proposta visa também a formação de plateias, além de associar a imagem do bom espetáculo à programação realizada pelo CBTIJ, que já é uma referência de qualidade conquistada através do circuito SESC CBTIJ, assim como o Centro de Referência do Teatro Infantil.
Em cartaz no CBTIJ, Ciranda é um espetáculo de dança-teatro cuja temática são as ações do cotidiano sem enredo narrativo-descritivo nem diálogos usuais. Inicialmente, em cena, apenas um baú que, como uma cartola de mágico, transforma ilusão em realidade. Antes mesmo de acordar, a menina Telé encontra o amigo Deco, e as duas crianças começam a despertar para o dia e para as possibilidades de descoberta durante suas brincadeiras.
Os atores Andréia Elias e Tiago Quites, por meio de uma excelente linguagem corporal, desenvolvem o trabalho com forte presença cênica. O espetáculo dirigido por Andréia Elias, utiliza recursos da música, da dança, do circo e do teatro. A comunicação faz-se, exclusivamente, por movimentos.
A espontaneidade das ações encontra eco imediato na plateia, e as crianças entram no jogo. O cenário e figurinos de Gabriela Bardy e Joana Lavalle são coloridos e simples, sob a iluminação do sempre eficiente Djalma Amaral. O espetáculo resgata, através da ótica da criança, a brincadeira e o jogo com energia e alegria, acabando por contagiar a todos.
Há, no entanto, cenas pouco exploradas, como a do sapateado, que parte de uma excelente ideia, a manipulação dos sapatos com as mãos, que, no entanto, não se realiza totalmente, ou a da brincadeira de estátua. Nesta, o ator Tiago Quites, dono de excepcional energia e presença cênica, perde uma ótima oportunidade de jogo com a plateia, por falta de um trabalho de dramaturgia que conduza melhor a ação.
Os elementos – sapatos, bolas, panelas, colheres – são achados simples que trazem o cotidiano infantil para o palco. Brincar é simples. O espetáculo mostra esta simplicidade sem deixar de manter uma estrutura dramatúrgica.
Os pequeninos se divertem, brincam na plateia e interagem espontaneamente sem serem excitados com a proposta. É um excelente espetáculo que coloca a criança, a partir de 3 anos, frente a frente com a dança, a música e ao movimento.