Andrea Elias e Tiago Quites formam uma dupla equilibrada e bem-humorada, que prende bem a atenção da plateia

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 26.09.2004

 

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Ciranda: Dança-teatro para Crianças: No Teatro SESI, uma peça que mistura linguagens cênicas

A alegria e a poesia das brincadeiras infantis

Já faz algum tempo que os espetáculos de dança-teatro concebidos para
adultos conquistaram seu público. Nas montagens para crianças, essa mistura de linguagens ainda é pouco utilizada, podendo-se até dizer que é uma novidade para boa parte delas. Ciranda: Dança-teatro para Criança, montagem do grupo Teatro Xirê, em cartaz no Teatro SESI, pode ser uma boa oportunidade para os pais testarem o interesse de seus filhos por uma peça diferente daquelas que eles estão acostumados a ver.

Poucas palavras e grande poder de comunicação

Uma menina-bebê corre e pula pelo palco praticamente vazio, até resolver entrar dentro de um baú cor de laranja. Logo em seguida, as crianças veem, saindo do mesmo baú, duas pernas que contracenam efetuando diferentes movimentos. Para surpresa do público infantil, após a “dança das pernas” sai de dentro do baú um menino-bebê, que começa uma divertida sequencia de brincadeiras com sua companheira de cena. Todas elas embaladas por uma inspirada trilha sonora que inclui músicas de Chico Buarque e Edu Lobo, Vinicius de Moraes e Toquinho, Naná Vasconcelos, Jackson do Pandeiro, entre outros craques da MPB.

É bom que se diga que não há uma história com começo, meio e fim em Ciranda, espetáculo concebido a partir de pesquisa de Andrea Elias e Jefferson Barbosa. As poucas palavras pronunciadas pelos atores são completamente soltas, sem qualquer pretensão de transmitir um sentido à plateia. Mas parece que isso não impede a montagem de se comunicar com seu público. Tanto na cena da praia, em que a menina-bebê fica fazendo evoluções e soltando exclamações sobre uma bola azul, quanto na outra, em que os dois personagens tentam se comunicar pelo celular – sem êxito – são muito engraçadas. A trilha sonora dessa última, mixagem de uma série de vozes que não dizem nada, é muito bem utilizada neste momento do espetáculo.

Contribuem significativamente para o encanto da montagem o figurino e os adereços de Joana Lavallé e Gabriela Bardy. Se a dupla cria um cenário muito simples, capricha nos outros elementos. As duas cores predominantes, o azul e o amarelo, estão presentes desde os trajes dos bebês até os variados adereços utilizados pelos atores, colorindo suavemente a cena. Fora isso, são muito divertidos objetos cênicos como o pequeno guarda-chuva colorido utilizado pela menina e os sapatos pretos manuseados pelos atores para realizar uma coreografia de sapateado. A eficiente luz de Djalma Amaral está totalmente sintonizada com as cores e os sons da peça.

Andrea Elias, responsável pela concepção e direção do espetáculo, também se sai muito bem em cena, contracenando com Tiago Quites. Os dois formam uma dupla muito equilibrada e bem-humorada, que prende a atenção das crianças durante os 40 minutos da apresentação.

Ciranda: Dança-teatro para Crianças é um espetáculo muito delicado, que consegue transmitir ao público, principalmente às crianças pequenas, a alegria e a poesia das brincadeiras infantis.