Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone, Rio de Janeiro – 04.04.1992

Barra

Se o palco fosse tela

São muitas as Cinderelas que vivem por aí perdendo os seus sapatinhos. Tão impressionante quanto o número de suas versões para os livros e para os palcos é a constatação de que uma história, bastante conhecida continua atraindo. O segredo deste sucesso pode estar no fato de que, ao contrário do que acontece na vida real, nas histórias no confronto entre o bem e o mal, o bem sempre vence.

Com recriação e direção de Marcello Caridad, a Cinderella, no Teatro Ziembinski, chega à cena cheia de referências cinematográficas, tanto no texto quanto na montagem.

Caridad recupera a trajetória da como herança uma filha surpresa, que família Borralho. O marido, que é só um retrato de parede, ao morrer deixa como herança uma filha surpresa, que, definitivamente, não é bem recebida no seio da família. A causa mortis do infiel é sempre insinuada, como se não tivesse acontecido de maneira tão natural, como era de se esperar numa história infantil. E cada vez que o personagem é citado, ouve-se um acorde de filme de suspense, como se o culpado estivesse naquela sala.

A direção utiliza muito esses ganchos cinematográficos, quando traz a cena takes de Os Fantasmas se Divertem, Mamãezinha Querida, Grease e O que Aconteceu a Baby Jane. Mas até mesmo Hollywood tem seus problemas na escolha certa de atores. Com exceção de Raymundo Ribeiro, que compões a Madrasta Alzira com toques de grande estrela tipo Norma Desmond, em Sunset boulevard, e Marco Antônio Campos, com seu incrível time de comédia, que dá ao Príncipe Frumello, todos aqueles tiques do Major Nelson, de Jeannie é um gênio, o restante do elenco, extremamente jovem e inexperiente, não acompanha o ritmo da encenação, e por muitas vezes tem-se a nítida impressão de que não compreendem o texto que estão interpretando.

Como o teatro não dispõe de tantos recursos como o cinema – close ou corte na edição -, os ajustes necessários devem ser feitos imediatamente pela direção, no sentido de tornar a encenação harmônica, dando mais ritmo às cenas e acertando as diferenças nos níveis de interpretação. Agindo desta maneira, o diretor Marcelo Caridad estará valorizando o seu próprio texto e permitindo que Cinderella se torne o grande espetáculo que merece ser.

Cotação: 2 estrelas (Bom)